BE04: Política de Aprovisionamento

A política de aprovisionamento salvaguarda a prossecução da sustentabilidade Future-Fit

1. Ambição

Se alguma atividade nas cadeias de fornecimento de uma empresa resultar num impacto negativo, então a empresa está a contribuir para esse impacto – e potencialmente a perpetuá-lo – dificultando assim o progresso rumo a uma Sociedade Future-Fit.

Por isso, uma empresa Future-Fit procura reduzir – e, eventualmente, eliminar – qualquer impacto ambiental e social negativo causado pelos bens e serviços de que depende, esforçando-se continuamente por antecipar, evitar e resolver pontos críticos específicos ao longo das suas cadeias de fornecimento.

1.1 O que significa este objetivo

Todas as empresas dependem, em maior ou menor grau, de bens e serviços adquiridos a outras organizações, coletivamente designadas por fornecedores. Exemplos comuns incluem energia, água, computadores, transportes, maquinaria, mobiliário, serviços de contabilidade e materiais necessários à produção de bens.

Todas as empresas são mutuamente responsáveis52 pelos impactos ambientais e sociais causados pela produção e fornecimento dos bens e serviços de que dependem. Só quando uma empresa evita ou resolve de forma eficaz esses impactos negativos pode considerar-se alinhada com os princípios da sustentabilidade Future-Fit.

Este objetivo exige que a empresa implemente políticas e procedimentos que procurem continuamente aumentar a sustentabilidade Future-Fit das suas aquisições, com especial enfoque na antecipação, prevenção e resolução de pontos críticos específicos nas cadeias de fornecimento.

Para ser Future-Fit, a empresa deve: (a) ter políticas e processos que lhe permitam, a si e aos seus colaboradores, antecipar os locais onde os impactos negativos nas cadeias de fornecimento são mais prováveis; (b) evitá-los sempre que possível; e (c) tomar medidas concretas para resolver as preocupações que surjam.

1.2 Porque é que este objetivo é necessário

Tal como todos os Objetivos de Limite Mínimo Future-Fit, este objetivo é essencial para garantir que a empresa não está a comprometer o progresso da sociedade rumo a um futuro ambientalmente restaurativo, socialmente justo e economicamente inclusivo. Para saber mais sobre a base científica destes objetivos — fundamentada em mais de 30 anos de ciência sistémica, consulte o Guia de Metodologia.

As estatísticas seguintes ajudam a ilustrar por que razão é crítico que todas as empresas alcancem este objetivo:

  • As práticas de aprovisionamento tendem a focar-se na identificação dos meios mais económicos e eficientes para adquirir bens e serviços, por vezes em detrimento de preocupações ambientais ou de segurança. Um estudo da Trucost concluiu que, dos 2,15 biliões de dólares em danos ambientais causados anualmente pelas 3.000 maiores empresas do mundo, 49% resultam de impactos ocultos nas suas cadeias de fornecimento. [52]
  • A escassez de alguns recursos naturais leva a práticas de extração que comprometem a sustentabilidade Future-Fit. Por exemplo, um tipo de granito muito procurado provém exclusivamente de um distrito na Índia, onde são comuns problemas como trabalho infantil, servidão por dívida e condições de trabalho inseguras. [53]

1.3 Como este objetivo contribui para os ODS

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas constituem uma resposta coletiva aos maiores desafios sistémicos do mundo, pelo que estão naturalmente interligados. Qualquer ação pode ter um impacto direto sobre alguns ODS e, indiretamente, sobre outros, através de efeitos de arrastamento. Uma empresa Future-Fit pode ter a certeza de que está a contribuir - e de forma nenhuma a prejudicar - o progresso em direção aos ODS.

As empresas podem contribuir para o progresso em relação a todos os ODS ao procurarem alinhar as suas atividades de aprovisionamento com os critérios de sustentabilidade Future-Fit, incentivando ativamente os seus fornecedores a fazer o mesmo. No entanto, as ligações mais diretas a este objetivo dependerão das características específicas das cadeias de valor de cada empresa.

2. Ação

2.1 Por onde começar

Contextualização

Tal como explicado no Guia de Metodologia, todas as empresas são mutuamente responsáveis por qualquer impacto que ocorra para além dos seus próprios limites operacionais, na medida em que esse impacto resulte da sua existência.

No que diz respeito ao aprovisionamento, isto significa não depender de bens e serviços que, por si só, dificultem o progresso da sociedade rumo à sustentabilidade Future-Fit. Os requisitos exatos variam consoante o tipo de aquisição, da seguinte forma:

  • Funções centrais subcontratadas: Quando uma empresa subcontrata uma atividade que, de outro modo, teria de realizar ela própria (ex.: apoio ao cliente, produção, logística), está também a subcontratar todos os impactos negativos associados a essa atividade. As empresas são, por isso, mutuamente responsáveis por resolver os impactos operacionais negativos causados pelos fornecedores a quem subcontratam funções centrais. Todos os impactos negativos causados por fornecedores de funções centrais subcontratadas devem, a prazo, ser eliminados.
  • Inputs de produto: Nenhuma empresa consegue produzir bens físicos – ou oferecer serviços cuja prestação envolva o consumo desses bens – sem depender de inputs de produto: matérias-primas, componentes fabricados, produtos acabados, etc.. A responsabilidade mútua exige que as empresas trabalhem para eliminar todos os impactos do berço até à porta (cradle-to-gate), causados pelo fornecimento dos seus inputs de produto.53 Todos os impactos negativos associados à criação e fornecimento dos inputs de produto da empresa devem, a prazo, ser eliminados.
  • Compras acessórias: Esta categoria inclui três tipos de aquisição. Primeiro, serviços utilizados ocasionalmente pela empresa (ex.: consultoria, táxis, voos e hotéis em viagens de trabalho). Segundo, bens de uso geral consumidos no dia a dia (ex.: material de escritório, produtos de limpeza). Terceiro, ativos de capital adquiridos ou arrendados que apoiam as atividades diárias (ex.: edifícios, equipamentos informáticos, maquinaria, mobiliário). Uma empresa pode, em geral, adquirir este tipo de bens e serviços a diferentes fornecedores em condições semelhantes, mas a sua influência sobre qualquer um deles tende a ser reduzida. Nestes casos, a responsabilidade mútua estende-se à escolha da melhor opção disponível.

Como categorizar os inputs de energia e água

Para efeitos deste objetivo, os inputs de energia e água devem ser tratados como compras acessórias, salvo se houver uma razão válida para os considerar como inputs de produto. Se for esse o caso, a empresa pode optar por classificá-los dessa forma.

A rastreabilidade dos inputs empresariais – e dos impactos a eles associados – pode representar um desafio significativo. Informações críticas podem estar ocultas a montante na cadeia de fornecimento, ou os fornecedores podem simplesmente estar relutantes em fornecê-las. Como resultado, melhorar a sustentabilidade Future-Fit da cadeia de fornecimento exige um esforço significativo e contínuo por parte da empresa, bem como a cooperação dos seus fornecedores.

Uma empresa pode iniciar este processo identificando os bens e serviços de que depende, analisando os problemas mais prováveis de surgir e determinando se esses impactos negativos estão, de facto, a ocorrer. Com base nesse entendimento, pode então começar a melhorar o seu desempenho, colaborando com os fornecedores para evitar ou resolver essas questões.

Perguntas a colocar

As seguintes perguntas ajudam a identificar as informações a recolher.

Se a empresa produz bens – ou presta serviços cuja entrega implique o consumo de bens físicos – que inputs de produto são utilizados nesses bens?
  • Que tipos de inputs de produto são utilizados para criar e fornecer os produtos da empresa? Estes inputs são compostos por uma mistura complexa de ingredientes ou materiais?
  • Quem fornece estes inputs e de onde obtêm eles os seus próprios materiais? Os fornecedores subcontratam partes da sua produção a terceiros?
  • Onde estão localizadas as operações dos fornecedores diretos da empresa? De onde provêm os materiais que utilizam? Estas regiões são conhecidas por problemas ambientais ou laborais?
  • Que matérias-primas são utilizadas na produção dos inputs de produto? A empresa sabe onde e como esses recursos são colhidos, pescados, caçados, criados ou extraídos?
  • Como são produzidos os produtos da empresa? A produção final ocorre internamente ou é subcontratada a terceiros? Se for subcontratada, a que regulamentos ou normas estão esses fornecedores sujeitos?
  • A empresa tem conhecimento dos impactos sociais e/ou ambientais que podem ocorrer nas diferentes fases do ciclo de vida dos seus inputs de produto? Como é que esses impactos variam entre a produção da matéria-prima, o processamento intermédio e o transporte?
  • Quais são os passos necessários para se tornar fornecedor da empresa? Os potenciais fornecedores têm de cumprir critérios relativos ao desempenho social ou ambiental? Os fornecedores assinam um código de conduta, apresentam provas de desempenho mínimo ou aceitam auditorias ocasionais?
A empresa subcontrata alguma função central?
  • A empresa subcontrata atividades operacionais que são críticas para o seu negócio e que, de outro modo, teria de realizar internamente (ex.: produção, centros de atendimento ao cliente)? Quem presta essas funções e onde e como são executadas?
  • O que ganha a empresa ao ter essas funções desempenhadas por entidades externas? Que compromissos assume ao abdicar do controlo sobre essas funções?
  • A empresa tem conhecimento dos impactos sociais e/ou ambientais que podem resultar da forma como o fornecedor executa a função?
Que bens e serviços acessórios a empresa adquire para apoiar as suas operações?
  • A empresa tem conhecimento de eventuais riscos sociais e/ou ambientais associados à produção e utilização desses bens e serviços?
  • Os fornecedores desses bens e serviços têm de cumprir algum critério relacionado com o desempenho social ou ambiental?
  • A empresa dispõe de políticas que assegurem a utilização de fontes certificadas sempre que possível (ex.: madeira e papel com certificação FSC)?
Como definir prioridades

As seguintes perguntas ajudam a identificar e a priorizar ações de melhoria.

Quais são as melhores oportunidades para progredir?
  • Que tipos de compras são feitas com mais frequência pela empresa? O que é adquirido em maiores quantidades? Que categorias representam as maiores fatias da despesa total? Pequenas alterações nestas compras podem ter um impacto significativo tanto nos impactos gerados como no progresso da empresa rumo à sustentabilidade Future-Fit.
  • Com que frequência a empresa revê ou renova os contratos de aprovisionamento? Há algum contrato prestes a ser reavaliado? A renovação de contratos representa uma oportunidade para integrar critérios sociais e/ou ambientais mais exigentes nas decisões de compra.
  • Que bens e serviços adquiridos pela empresa têm maior probabilidade de gerar impactos sociais e/ou ambientais negativos? Esses impactos devem-se à falta de regulamentação nas regiões de origem, a desafios específicos do setor ou à falta de transparência e/ou rastreabilidade na cadeia de fornecimento? Quais destes representam maiores riscos reputacionais para a empresa? Algum destes impactos pode gerar outros riscos, como a interrupção do fornecimento de inputs de produto críticos?
  • Instituições de investigação, associações do setor, autoridades governamentais ou outras entidades levantaram preocupações sobre problemas sociais e/ou ambientais específicos relacionados com a produção ou utilização dos tipos de bens dos quais a empresa depende?
A empresa tem processos implementados para antecipar, evitar e resolver pontos críticos na cadeia de fornecimento?
  • Em caso afirmativo, esses processos são provavelmente suficientes para eliminar ou reduzir significativamente, ao longo do tempo, os impactos sociais ou ambientais negativos resultantes das aquisições da empresa?
  • Em caso negativo, como poderiam ser integrados processos deste tipo? De quem seria necessária autorização? Que pessoas ou equipas teriam de estar envolvidas na conceção e implementação destes processos, e que incentivos seriam necessários para garantir a sua adoção?
Quais são as melhores formas de fazer progressos imediatos?
  • Existem critérios de seleção ou questionários já existentes para novos fornecedores, nos quais a empresa possa integrar considerações sociais ou ambientais? Essas considerações poderiam ser integradas em pedidos de proposta ou concursos para novos contratos?
  • Existem oportunidades claras para substituir determinadas compras feitas a fontes não certificadas por alternativas com certificação?
Poderá a empresa ir além do exigido por este objetivo?
  • Além do necessário para atingir este objetivo, existem ações que a empresa possa realizar para garantir que as normas sociais, a governança global e o crescimento económico impulsionam a prossecução da sustentabilidade Future-Fit?54 Qualquer ação nesse sentido pode acelerar o progresso da sociedade rumo à sustentabilidade Future-Fit. Para mais detalhes, consultar o Guia de Ações Positivas.

A próxima secção descreve os critérios de aptidão necessários para determinar se uma ação específica resultará em progressos rumo à sustentabilidade Future-Fit.

2.2 Prosseguir rumo à sustentabilidade Future-Fit

Introdução

Para que os processos de aprovisionamento de uma empresa estejam alinhados com a sustentabilidade Future-Fit, todas as aquisições — incluindo matérias-primas, funções essenciais subcontratadas e compras auxiliares — devem ser avaliadas para identificar eventuais impactos negativos. Além disso, devem ser implementadas políticas que evitem esses impactos sempre que possível, e devem ser tomadas medidas para lidar com os que não possam ser evitados.

Orientações para realizar avaliações de risco (hotspot assessments)

Para antecipar os impactos negativos que os bens e serviços adquiridos possam estar a gerar, a empresa deve desenvolver uma compreensão profunda da dimensão, natureza e complexidade das suas cadeias de fornecimento. Todos os inputs de produto, funções essenciais subcontratadas e aquisições auxiliares devem ser alvo de avaliações de risco, com o objetivo de identificar qualquer atividade que possa comprometer o progresso em direção às 8 Propriedades de uma Sociedade Future-Fit, nomeadamente:55

  • A energia é renovável e acessível a todos;
  • A água é obtida de forma responsável e é acessível a todos;
  • Os recursos naturais são geridos de forma a proteger as comunidades, os animais e os ecossistemas;
  • O ambiente está livre de poluição;
  • Não existe desperdício;
  • A nossa presença física protege a saúde dos ecossistemas e das comunidades;
  • As pessoas têm capacidade e oportunidade de viver vidas plenas; e
  • As normas sociais, a governação global e o crescimento económico impulsionam transição para a sustentabilidade Future-Fit.

Figura 1 apresenta uma lista de questões a considerar em cada área. Deve ser dada especial atenção aos tipos de impacto cuja probabilidade é mais elevada, consoante riscos geográficos, específicos do setor ou associados a determinados recursos. Por exemplo:

  • O recurso agrícola consome muita água? Está a ser adquirido numa região com stress hídrico?
  • A função de apoio ao cliente, disponível 24 horas e subcontratada, está a ser realizada num país onde os direitos laborais têm pouca proteção legal?
  • Estão a ser comprados recursos, como papel de escritório ou óleo de palma, a fornecedores não certificados, podendo assim contribuir para a desflorestação?

Figura 1: Lista de riscos críticos frequentes por área de impacto.

Área de impacto Riscos críticos frequentes
Energia Processos com elevado consumo energético, que tendem a:
- Depender de energia não renovável
- Impedir que outras pessoas satisfaçam as suas necessidades energéticas
Água Processos com elevado consumo de água, que tendem a:
- Utilizar água proveniente de fontes sob stress hídrico
- Impedir que outras pessoas satisfaçam as suas necessidades hídricas
Recursos naturais Dependência de recursos naturais, cuja extração pode contribuir para:
- Perda de biodiversidade
- Esgotamento de recursos renováveis
- Conflitos armados
- Maus-tratos a animais
- Degradação física do ambiente
- Desvio de culturas agrícolas para produção de biocombustíveis
Poluição: GEE Processos com elevada emissão de gases com efeito de estufa (GEE)
Poluição: outras emissões nocivas Emissões nocivas para o ar, solo e a água, incluindo:
- Gases tóxicos e poluentes atmosféricos (ex.: COV, NOx)
- Substâncias que destroem a camada de ozono
- Substâncias que se acumulam na natureza
- Metais raros (ex.: cádmio e chumbo)
- Águas residuais não tratadas ou insuficientemente tratadas
- Produtos químicos nocivos (ex.: escorrência de fertilizantes, pesticidas perigosos)
Desperdício Processos que geram grandes quantidades de desperdício
Presença física Utilização prejudicial do solo, incluindo:
- Invasão de áreas importantes para comunidades locais
- Conversão de ecossistemas intactos (ex.: florestas primárias, zonas húmidas)
- Desrespeito pelos direitos das comunidades (ex.: práticas de usurpação de terras)
Pessoas Práticas laborais abusivas, incluindo:
- Trabalho infantil
- Horas extraordinárias excessivas
- Trabalho forçado
- Condições de trabalho perigosas
- Uso irresponsável de trabalho temporário
- Salários e benefícios em falta ou insuficientes
- Subcontratação não declarada
- Práticas discriminatórias
- Ausência de representação (ex.: direito à negociação coletiva)
Fatores impulsionadores (Drivers) Atividades operacionais motivadas por condutas empresariais antiéticas (ex.: práticas de suborno)

Avaliação de funções essenciais externalizadas e aquisições auxiliares:

Para qualquer função essencial externalizada ou aquisição auxiliar, a empresa deve procurar:

  • Identificar as atividades que contribuem para a sua realização;
  • Determinar onde e como essas atividades ocorrem; e
  • Considerar que impactos negativos podem, de forma razoável, ser esperados como resultado dessas atividades.

Avaliação de inputs de produto:

Para cada input de produto, a empresa deve procurar:

  • Identificar as matérias-primas necessárias para a produção do input;
  • Determinar as principais etapas do seu ciclo de vida e as atividades envolvidas (isto é, onde e como as matérias-primas são provavelmente extraídas, processadas, combinadas, transportadas, etc.); e
  • Considerar que impactos negativos podem, de forma razoável, ser esperados ao longo do ciclo de vida do input, como resultado dessas atividades.

Recursos para avaliações de riscos críticos

As empresas devem utilizar informação disponibilizada por entidades governamentais e setoriais, bem como investigação própria (desk research). No caso dos inputs de produto, bases de dados de Avaliação do Ciclo de Vida (Life-Cycle Assessment - LCA) podem ser particularmente úteis. Para impactos sociais, a Social Hotspot Database é um bom ponto de partida, tal como a OpenLCA para impactos ambientais.

Orientações para categorizar riscos críticos

Para priorizar a ação em relação a cada risco crítico, a empresa deve considerar tanto a probabilidade de ocorrência de um impacto negativo, como a gravidade das suas consequências caso venha a ocorrer. Qualquer impacto com gravidade média a elevada deve ser considerado risco crítico, exceto se existir uma justificação sólida para acreditar que esse impacto não irá ocorrer (ver Figura 2).

As empresas devem ainda considerar quais os impactos que representam maior risco para o próprio negócio e quais são mais fáceis de resolver.

Figura 2: Orientações para identificar a intensidade do risco crítico, considerando a probabilidade e a gravidade. As situações no canto superior direito da matriz merecem maior atenção.56

Orientações para agir face aos riscos críticos

A empresa deve assegurar que está a tomar medidas eficazes e significativas para evitar e resolver os riscos críticos identificados. Para tal, deve adotar a abordagem Não usar, Sem desculpas, Compromisso de redução conforme descrito abaixo:

Não usar…

As empresas devem implementar mecanismos de triagem, evitar ou — nos casos em que já estejam a ser utilizados — eliminar quaisquer bens ou serviços cuja aquisição, de forma direta ou com consequências inevitáveis, contribua para resultados que comprometem o progresso da sociedade rumo à sustentabilidade Future-Fit. Exemplos incluem:

  • Bens que causam diretamente, ou originam inevitavelmente, a degradação física do ambiente (ex.: redes de pesca de arrasto de fundo);
  • Bens que causam diretamente, ou originam inevitavelmente, poluição do ambiente (ex.: microesferas de plástico usadas como ingrediente em champôs);
  • Bens que causam diretamente, ou originam inevitavelmente, danos para as pessoas (ex.: minas terrestres, tabaco utilizado em cigarros);
  • Substâncias consideradas nocivas, de acordo com uma das seguintes fontes:
    • A lista SIN, de acesso livre, criada pelo International Chemical Secretariat, que identifica substâncias reconhecidas como altamente preocupantes para a saúde humana ou ambiental;
    • Entidades setoriais credíveis relevantes para a substância em causa, que recomendem a sua eliminação progressiva;
  • Minerais ou outros recursos naturais cujo aprovisionamento (sem controlo e rastreabilidade adequados) possa financiar conflitos armados (ex.: metais provenientes da República Democrática do Congo).

Sem desculpas…

As empresas não devem depender de nenhuma aquisição sempre que existam alternativas mais benignas e funcionalmente equivalentes, ou que constituam um avanço na eliminação de impactos futuros. Isto inclui:

  • A compra de matérias-primas virgens ou não certificadas quando existem opções recicladas ou certificadas disponíveis (ex.: madeira ou papel reciclado ou com certificação FSC, óleo de palma com certificação RSPO). Para mais informações, consultar a nota sobre certificações como indicadores indiretos.
  • A realização de grandes encomendas, aquisição de ativos relevantes ou assinatura de contratos de prestação de serviços de longa duração sem considerar as consequências sociais e ambientais da escolha de um determinado fornecedor.

Compromisso de redução…

Quando é identificado um risco crítico e não existe uma alternativa melhor disponível para substituição direta, a empresa deve assumir o compromisso de reduzir os impactos por outras vias. Isso pode incluir:

  • Comprar apenas a fornecedores que demonstrem um compromisso claro com a redução do impacto identificado, ou cujo impacto seja inferior ao de todos os outros fornecedores potenciais;
  • Ajustar as operações para reduzir a dependência do bem ou serviço. Por exemplo:
    • Atualizar a logística para privilegiar meios de transporte com menores emissões, com o objetivo de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa;
    • Ajustar técnicas de produção para diminuir a dependência de substâncias nocivas;
  • Modificar os produtos e/ou modelos de negócio de forma a reduzir a dependência do bem ou serviço. Por exemplo:
    • Substituir o modelo de venda direta por um modelo de produto-como-serviço, aumentando o incentivo da empresa para criar bens mais duráveis e reparáveis, reduzindo assim a necessidade de matérias-primas a longo prazo.
Critérios de avaliação - Fitness criteria

A empresa deve assegurar que todos os riscos críticos são identificados e geridos de forma consistente e alinhada com a abordagem Não usar, Sem desculpas, Compromisso de redução descrita anteriormente.

Além disso, cada input de produto, função essencial externalizada e aquisição auxiliar deve ser sujeito a processos de triagem e a esforços para melhorar os resultados de sustentabilidade Future-Fit, conforme descrito abaixo.

  • A empresa deve realizar uma avaliação de riscos críticos aplicável à compra ou tipo de compra,57 que permita:
    • A identificação de riscos críticos por área de impacto (ver Figura 1).
    • A avaliação da intensidade de cada risco crítico (ver Figura 2).
    • A definição de prioridades informadas quanto aos impactos a tratar em primeiro lugar.
  • Quando for identificado um risco crítico, este deve ser tratado com medidas alinhadas com a abordagem Não usar, Sem desculpas, Compromisso de redução.

Com que frequência devem ser realizadas as avaliações de riscos críticos?

Dado tempo suficiente, a empresa deverá conseguir eliminar os riscos críticos de maior intensidade das suas cadeias de fornecimento — mas isso não justifica uma atitude de complacência. As cadeias de fornecimento e as empresas que delas fazem parte são dinâmicas, o que significa que novos problemas podem surgir periodicamente, e que impactos menos problemáticos continuam a exigir atenção. Por essa razão, as avaliações de riscos críticos devem ser encaradas como um processo iterativo e contínuo.

Na prática, estas avaliações devem ser revistas e atualizadas periodicamente, de acordo com uma frequência adequada ao contexto, ou sempre que a origem de determinados bens e serviços adquiridos sofra alterações significativas. Por exemplo, uma empresa que adquira um input agrícola a vários fornecedores que operam todos numa região abundante em água não precisa de realizar avaliações frequentes de riscos associados à água para esse input. No entanto, se começar a obter o mesmo input a partir de uma segunda região, deverá realizar uma nova avaliação do risco crítico relacionado com a água.

3. Avaliação

3.1 Indicadores de progresso

O objetivo dos indicadores de progresso Future-Fit é refletir o grau de evolução de uma empresa no cumprimento de um determinado objetivo. Estes indicadores são expressos em percentagens simples.

Deve procurar-se avaliar a sustentabilidade Future-Fit da empresa em toda a extensão das suas atividades. Em algumas situações, tal pode não ser possível. Nestes casos, deve ser consultada a secção Avaliação e reporte com dados incompletos no Guia de Implementação.

Avaliação do progresso

Este objetivo inclui nove indicadores de progresso, correspondentes às áreas temáticas identificadas na Figura 2, nomeadamente: Energia, Água, Recursos naturais, Emissões de GEE, Emissões nocivas, Desperdício, Presença física, Pessoas, e Fatores impulsionadores. Para calcular o progresso, são necessários os seguintes passos:

Para cada uma das nove áreas de impacto:

  • Avaliar a sustentabilidade Future-Fit de cada decisão de compra, de acordo com as orientações abaixo;
  • Calcular o progresso da empresa nessa área de impacto, considerando o conjunto das atividades de aprovisionamento.
Avaliar a sustentabilidade Future-Fit de uma compra para uma área de impacto específica

A abordagem de avaliação é, em termos conceptuais, idêntica para todos os tipos de despesa, embora existam diferenças — sobretudo no que diz respeito ao âmbito da avaliação de riscos críticos necessária. A metodologia de pontuação encontra-se descrita na Figura 3.

Figura 3: Como avaliar a sustentabilidade Future-Fit de decisões de compra relativas a funções essenciais externalizadas, inputs de produto e aquisições auxiliares.

Pontuação Critérios de Avaliação
Funções Essenciais Externalizadas Inputs de Produto Aquisições Auxiliares
Âmbito de Avaliação de Riscos Críticos A avaliação abrange as operações do fornecedor que executa a função em nome da empresa Avaliação cradle-to-gate, desde a extração das matérias-primas utilizadas na produção do input A avaliação centra-se nos serviços, consumíveis e ativos adquiridos, em vez de nas empresas que os produzem
0% Não foi realizada nenhuma avaliação de riscos críticos
ou
A compra enquadra-se na categoria Não usar da abordagem
Não usar, Sem desculpas, Compromisso de redução
25% Foi realizada uma avaliação de riscos críticos apropriada
A avaliação identifica que podem existir riscos potenciais
Não foram tomadas medidas adicionais
Nota: Se a análise confirmar que não existem riscos potenciais, verificar os critérios para atribuição de 100% (abaixo)
50% Foi realizada uma análise detalhada de todos os riscos potenciais
A análise confirma a existência de riscos críticos reais
Estão a ser tomadas medidas para resolver os riscos identificados
Nota: Se a análise confirmar que não existem riscos reais, verificar os critérios para atribuição de 100% (abaixo)
75% Todos os riscos críticos de elevada intensidade foram tratados
A empresa está a tomar medidas adequadas para abordar os restantes riscos, de acordo com a abordagem Não usar, Sem desculpas, Compromisso de redução
100% Todos os riscos críticos foram evitados ou eliminados Todos os riscos críticos ao longo do ciclo cradle-to-gate foram evitados ou eliminados A empresa procura continuamente opções de aquisição que causem o menor impacto negativo possível
Cálculo do progresso da empresa numa área de impacto específica

O progresso agregado da empresa em termos de sustentabilidade Future-Fit relativamente à área de impacto “X” (para cada uma das áreas apresentadas na Figura 3) corresponde à soma ponderada pelo custo das pontuações de sustentabilidade Future-Fit atribuídas a todos os inputs de produto, funções essenciais externalizadas e aquisições auxiliares.

Isto pode ser expresso matematicamente da seguinte forma:

\[F^X=\frac{\sum_{d=1}^Df_d^X*C_d}{\sum_{d=1}^DC_d}\]

Onde:

\[F^{X}\] É o progresso da empresa rumo à sustentabilidade Future-Fit na área de impacto X, expresso em percentagem.
\[X\] É a área de impacto em avaliação: Energia, Água, Recursos naturais, Emissões de GEE, Emissões nocivas, Desperdício, Presença física, Pessoas ou Fatores impulsionadores.
\[f_d^{X}\] É a pontuação de sustentabilidade Future-Fit atribuída ao processo de triagem e avaliação da decisão de compra do bem ou serviço d.
\[C_d\] É o custo total (valor monetário gasto) durante o período de reporte com o bem ou serviço d.
\[D\] É o número total de bens e serviços adquiridos pela empresa no período em análise.

Para um exemplo de como calcular este indicador de progresso, ver aqui.

3.2 Indicadores de contexto

O objetivo dos indicadores de contexto é fornecer às partes interessadas as informações adicionais necessárias para interpretar de forma completa o progresso de uma empresa.

Percentagem de inputs de produtos rastreáveis até à origem

A percentagem de inputs de produtos, por despesa, para as quais a empresa identificou todos os fornecedores, desde a extração ou colheita de matérias-primas até ao fabrico e distribuição intermédios.

Riscos críticos relevantes

Uma breve descrição de quaisquer riscos críticos de elevada intensidade que não tenham sido totalmente tratados durante o período de referência, e para cada um deles:

  • Breve descrição do risco crítico.
  • Ações tomadas até à data para evitar ou resolver o risco crítico.
  • Se aplicável, ações adicionais previstas.

Para um exemplo de como reportar os indicadores de contexto, consultar aqui.

4. Verificação

4.1 Para que serve a verificação e porque é importante

Qualquer empresa que esteja a trilhar o caminho da sustentabilidade Future-Fit incutirá mais confiança entre as suas partes interessadas - desde a administração de topo (CEO, CFO) até a investidores externos - se conseguir demonstrar a qualidade dos seus dados e a robustez dos controlos que os sustentam.

Isto é particularmente importante se a empresa pretender comunicar publicamente o seu progresso rumo à sustentabilidade Future-Fit, uma vez que algumas organizações podem exigir uma verificação independente antes da divulgação pública. Ao implementar controlos eficazes e bem documentados, a empresa facilita a compreensão do seu funcionamento por parte de auditores ou avaliadores externos, apoiando a sua capacidade de prestar garantia e/ou recomendar melhorias.

4.2 Recomendações para este objetivo

Os pontos seguintes destacam áreas que merecem especial atenção relativamente a este objetivo específico. Cada empresa e cada período de reporte são únicos, pelo que os processos de verificação e garantia variam: em qualquer situação, os auditores podem procurar avaliar diferentes controlos e evidências documentadas. Por conseguinte, estas recomendações devem ser entendidas como exemplos ilustrativos do que poderá ser solicitado, e não como uma lista exaustiva do que será exigido.

  • Documentar os métodos utilizados para garantir que todos os fornecedores da empresa foram identificados. Esta informação pode ajudar os auditores a avaliar se a abordagem da empresa apresenta o risco de não identificar algum fornecedor, o que poderá resultar na aquisição inadvertida de bens ou serviços que contribuam para impactos sociais ou ambientais negativos significativos, levando ao reporte de dados incorretos.
  • Documentar os métodos utilizados para agrupar os fornecedores nas avaliações de riscos críticos. Os auditores podem utilizar esta informação para avaliar e confirmar se as características-chave são consistentes dentro de cada grupo.
  • Documentar os métodos utilizados para avaliar a cadeia de fornecimento da empresa quanto a riscos sociais e ambientais críticos, incluindo os parâmetros usados para determinar se uma questão se qualifica como risco. Para cada fornecedor (ou grupo de fornecedores) avaliado, a empresa deve manter os registos detalhados da avaliação realizada, de forma a criar um rastro documental. Os auditores poderão usar essa informação para confirmar que a empresa identificou de forma consistente as questões que requerem investigação adicional.
  • Sempre que forem identificados riscos potenciais, documentar os métodos utilizados para confirmar ou refutar a presença dessas questões nos fornecedores da empresa. Para cada uma destas avaliações, devem ser mantidos os detalhes do trabalho realizado, de forma a criar um rastro documental que permita aos auditores confirmar que a empresa foi consistente na determinação das questões que exigem ação.
  • Quando a empresa tenha tomado medidas ativas para ajudar um fornecedor a eliminar uma questão crítica, conservar toda a documentação relativa a essas ações. Os auditores poderão usar essa informação para confirmar que a empresa aplicou corretamente o método de cálculo dos indicadores Future-Fit.
  • Descrever os métodos utilizados para classificar os fornecedores da empresa numa das três categorias descritas neste Guia de Ação (i.e., inputs de produto, funções essenciais externalizadas, aquisições auxiliares). Os auditores poderão usar essa informação para avaliar e confirmar se as características-chave são consistentes dentro de cada categoria.

Para uma explicação mais geral sobre como conceber e documentar controlos internos, consultar a secção Rumo à sustentabilidade Future-Fit de forma sistemática no Guia de Implementação.

5. Informação adicional

5.1 Exemplo

A ACME Inc. vende produtos à base de limonada. A empresa compra açúcar e limões como inputs de produto (outros ingredientes, como a água, são excluídos deste exemplo, por simplificação), e externaliza a distribuição dos seus produtos para um terceiro.

A ACME decide realizar uma avaliação aprofundada para identificar riscos críticos relacionados com a água e com os trabalhadores nas suas cadeias de fornecimento de limões e açúcar. A partir de uma avaliação inicial, a ACME descobre que os trabalhadores agrícolas em alguns dos países onde adquire açúcar podem estar sujeitos a violações de direitos humanos. Investigações adicionais confirmam que se trata de um risco crítico de elevada intensidade e, como passo seguinte, a ACME decide colaborar com um grupo agrícola para melhorar a situação do seu fornecedor de açúcar.

A ACME avalia também o fornecedor de limões e conclui que existe um risco crítico de elevada intensidade, pois os trabalhadores recebem menos do que o salário mínimo. No entanto, a ACME não toma qualquer medida adicional. Como resultado, atribui as seguintes pontuações a estes inputs:

\[f^{Pessoas}_S=50\%\] \[f^{Pessoas}_L=25\%\]

A investigação confirma ainda que todo o açúcar é cultivado em regiões com abundância de água. No entanto, a análise da cadeia de fornecimento de limões indica que poderá existir stress hídrico, mas não foi realizado qualquer trabalho para verificar essa possibilidade. A ACME atribui, assim, as seguintes pontuações de sustentabilidade Future-Fit a estes inputs:

\[f^{Água}_S=100\%\] \[f^{Água}_L=25\%\]

A ACME decide também realizar uma avaliação do prestador de serviços de distribuição, abrangendo todas as áreas de impacto. A avaliação indica que o desempenho é positivo em todas as dimensões sociais e ambientais, sem identificação de riscos críticos potenciais. Assim, a ACME atribui a seguinte pontuação de sustentabilidade Future-Fit a esta função essencial externalizada:

\[f^X_D=100\%\]

Em todas as áreas de impacto (sendo “X” uma das seguintes: Energia, Água, Recursos naturais, Emissões de GEE, Emissões nocivas, Desperdício, Presença física, Pessoas e Fatores impulsionadores), a ACME gasta 40.000 dólares por ano em açúcar, 100.000 dólares em limões e paga 60.000 dólares ao prestador de serviços de distribuição.

A empresa pode agora calcular o seu progresso da seguinte forma:

\[F^{Pessoas}=\frac{f^{Pessoas}_S*C_S+{f^{Pessoas}_L*C_L+f^{Pessoas}_D*C_D}}{C_S+C_L+C_D}\] \[=\frac{50\%*40,000+25\%*100,000+100\%*60,000}{200,000}\approx53\%\]
\[F^{Água}=\frac{f^{Água}_S*C_S+{f^{Água}_L*C_L+f^{Água}_D*C_D}}{C_S+C_L+C_D}\] \[=\frac{100\%*40,000+25\%*100,000+100\%*60,000}{200,000}\approx63\%\]
\[F^{Energia}=F^{Recursos Naturais}=F^{GEE}=F^{Emissões Nocivas}=F^{Desperdício}=F^{Presença Física}\] \[=F^{Fatores Impulsionadores}=\frac{100\%*C_D}{C_S+C_L+C_D}=\frac{100\%*60,000}{200,000}\approx30\%\]

Indicadores de contexto

Percentagem de inputs de produto rastreáveis até à origem

Não calculado.

Riscos críticos relevantes

Foram identificados dois riscos de elevada intensidade:

  • Violações de direitos humanos de trabalhadores em plantações de açúcar
    • Medidas adotadas: Foi envolvida uma organização local para apoiar um grupo de fornecedores estrategicamente selecionados na melhoria de várias áreas-chave.
  • Trabalhadores em plantações de limões recebem abaixo do salário mínimo
    • Medidas adotadas: Não foram tomadas quaisquer medidas.

5.2 Perguntas frequentes

As certificações podem ser usadas como indicadores indiretos (proxies)?

Sempre que possível, as empresas são incentivadas a aproveitar trabalho já realizado nas suas avaliações de sustentabilidade Future-Fit. No caso dos fornecedores, normas de certificação existentes podem reduzir significativamente o esforço analítico, embora existam algumas ressalvas.

Muitas normas de certificação — setoriais ou específicas de determinadas áreas de impacto — ajudam as empresas a determinar se os bens e serviços que adquirem foram produzidos de forma responsável. De facto, os critérios de sustentabilidade Future-Fit de vários Objetivos de Limite Mínimo baseiam-se nas orientações e investigações dessas normas. Como resultado, existe frequentemente sobreposição entre os critérios Future-Fit e os níveis de desempenho exigidos por organismos de certificação de referência.

Sempre que uma parte da cadeia de fornecimento esteja certificada segundo uma norma suficientemente robusta, este facto pode ser usado como indicador indireto de verificação de desempenho — o que significa que a empresa não precisa de realizar uma análise adicional. Em particular:

Um fornecedor (ou um “ramo” da cadeia de fornecimento) é considerado Future-Fit relativamente a um Objetivo de Limite Mínimo se:

  1. Estiver certificado por uma norma reconhecida e independente; e
  2. Essa norma exigir um nível de desempenho equivalente aos critérios de sustentabilidade definidos para o objetivo em causa.

Exemplos:

  1. Um fornecedor de madeira com certificação FSC- é considerado alinhado com o objetivo Os recursos naturais são geridos com respeito pelo bem-estar dos ecossistemas, das pessoas e dos animais.
  2. Um fornecedor acreditado como empregador que paga salário digno pela The Living Wage Foundation é considerado alinhado com o objetivo Os colaboradores recebem, pelo menos, um salário digno.

Adequação das certificações

Muitas das normas de certificação atualmente disponíveis — embora incentivem as empresas a seguir na direção certa — não vão suficientemente longe para garantir níveis de desempenho compatíveis com a sustentabilidade Future-Fit. As empresas devem procurar verificar se todas as questões relevantes estão devidamente cobertas pelas normas que utilizam. Qualquer empresa que realize essa análise é incentivada a partilhar as suas conclusões com a equipa Future-Fit, para que, ao longo do tempo, se construa um repositório de conhecimento sobre certificações que possa beneficiar todos os que procuram alinhar-se com a sustentabilidade Future-Fit.

Bibliografia

[52]
Salo, James, “Beyond the brand: Leaders in supply chain environmental sustainability.” 2012 [Online]. Available: http://www.trucost.com/trucost-blog/beyond-brand-leaders-supply-chain-environmental-sustainability/. [Accessed: 29-Oct-2017]
[53]
K. Hodal and P. Bengsten, “John lewis and habitat withdraw granite worktops over slavery concerns.” 2017 [Online]. Available: https://www.theguardian.com/global-development/2017/sep/03/john-lewis-habitat-withdraw-granite-worktops-slavery-concerns
[54]
“Policy and action standard: An accounting and reporting standard for estimating the greenhouse gas effects of policies and actions.” Greenhouse Gas Protocol, 2014 [Online]. Available: https://ghgprotocol.org/policy-and-action-standard. [Accessed: 18-Aug-2017]

  1. Ver o Guia de Metodologia para mais detalhes sobre responsabilidade mútua relativamente a bens e serviços adquiridos.↩︎

  2. Um input de produto é qualquer substância que seja necessariamente consumida na criação de bens ou na prestação de serviços. Isto inclui: ingredientes ou componentes necessários para fabricar um bem físico, que acabam incorporados nesse bem ou são consumidos durante a produção (ex.: um catalisador); e substâncias consumíveis necessárias para a prestação de um serviço (ex.: detergentes e tintas usados por um prestador de serviços de pintura comercial).↩︎

  3. Esta é uma das oito Propriedades de uma Sociedade Future-Fit – para mais detalhes, ver o Guia de Metodologia.↩︎

  4. Ver o Guia de Metodologia para mais detalhes sobre a forma como foram definidas as 8 Propriedades de uma Sociedade Future-Fit.↩︎

  5. Esta orientação é uma adaptação generalizada da abordagem apresentada no GHG Protocol’s Policy and Action Standard [54].↩︎

  6. O termo “tipo de compra” é utilizado aqui para sublinhar que o foco está nas considerações relevantes para diferentes categorias de bens e serviços, e não na análise de cada transação individual. Por exemplo, a aquisição de papel de escritório com certificação FSC a fornecedores equivalentes seria considerada um único tipo de compra.↩︎