BE19: Reaproveitamento dos produtos
Os produtos podem ser reaproveitados
1. Ambição
Uma empresa Future-Fit faz o possível para garantir que os bens físicos que disponibiliza a terceiros possam ser reaproveitados no final da sua vida útil.176
1.1 O que significa este objetivo
Os recursos do planeta são finitos. Muitos recursos renováveis estão a ser consumidos mais rapidamente do que conseguem regenerar-se e, à medida que os recursos finitos mais acessíveis são esgotados, os métodos de extração tornam-se frequentemente mais disruptivos. A procura por recursos virgens pode ser atenuada se os materiais forem reaproveitados em vez de descartados. O reaproveitamento também elimina os custos – financeiros, ambientais e humanos – associados à eliminação de desperdício.
Este objetivo abrange os bens vendidos e alugados, bem como quaisquer outros itens fornecidos aos clientes no âmbito de atividades comerciais, mas que a empresa não considera como geradores de receita.
Uma empresa Future-Fit faz o possível para garantir que os bens físicos que fornece a terceiros possam ser reaproveitados de forma responsável no final da sua vida útil. Estes requisitos aplicam-se tanto a produtos finais destinados a utilizadores finais, como a bens intermédios que são incorporados ou transformados em produtos finais por outras empresas.
Para ser Future-Fit, a empresa deve garantir que: (a) o que resta dos bens fornecidos pode ser separado no final da sua vida útil, de modo a maximizar o seu valor de recuperação pós-utilização; e (b) os seus clientes têm acesso facilitado a serviços de recolha e recuperação capazes de extrair esse valor.
1.2 Porque é que este objetivo é necessário
Tal como todos os Objetivos de Limite Mínimo Future-Fit, este objetivo é essencial para garantir que a empresa não está a comprometer o progresso da sociedade rumo a um futuro ambientalmente restaurativo, socialmente justo e economicamente inclusivo. Para saber mais sobre a base científica destes objetivos — fundamentada em mais de 30 anos de ciência sistémica — consulte o Guia de Metodologia.
As estatísticas seguintes ajudam a ilustrar por que razão é crítico que todas as empresas alcancem este objetivo:
- Apesar de existirem tecnologias para recuperar muitos materiais usados, apenas uma pequena parte é efetivamente reaproveitada: 72% das embalagens de plástico não são recuperadas de todo – 40% acabam em aterro e 32% perdem-se no sistema de recolha, ou seja, não são recolhidas, ou são recolhidas, mas depois descartadas ilegalmente ou mal geridas. [135]
- Só nos Estados Unidos, são descartadas anualmente 13 milhões de toneladas de têxteis. A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) afirmou que, se esta quantidade fosse reaproveitada, a redução nas emissões de gases com efeito de estufa equivaleria à retirada de 7,3 milhões de automóveis da estrada. Atualmente, apenas cerca de 16% dos produtos têxteis são reciclados. [136]
- • Considerada a indústria com melhor taxa de reciclagem, a indústria do papel ainda está longe do seu potencial. A taxa global de reciclagem de papel é de apenas cerca de 58%. [137]
1.3 Como este objetivo contribui para os ODS
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas constituem uma resposta coletiva aos maiores desafios sistémicos do mundo, pelo que estão naturalmente interligados. Qualquer ação pode ter um impacto direto sobre alguns ODS e, indiretamente, sobre outros, através de efeitos de arrastamento. Uma empresa Future-Fit pode ter a certeza de que está a contribuir - e de forma nenhuma a prejudicar - o progresso em direção aos ODS.
As empresas podem contribuir para vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ao conceber produtos que possam ser reaproveitados e ao incentivar ativamente os seus fornecedores a fazer o mesmo. Contudo, as ligações mais diretas com este objetivo são:
| Ligação a este Objetivo de Limite Mínimo | |
|---|---|
| Apoiar esforços para reduzir o impacto ambiental per capita das cidades, com especial atenção à gestão de resíduos. | |
| Apoiar esforços para alcançar uma gestão ambientalmente adequada de todos os resíduos ao longo do seu ciclo de vida, bem como esforços para reduzir substancialmente a geração de resíduos, através da prevenção, redução, reciclagem e reutilização. | |
| Apoiar esforços para prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha de todas as formas, em particular a resultante de atividades terrestres. |
2. Ação
2.1 Por onde começar
Contextualização
Atualmente, os materiais circulam na economia de forma predominantemente linear: inicia-se com a extração de recursos, passando pelo processamento em bens, compra, distribuição e utilização, até ao descarte final. Poucos produtos são concebidos a pensar no seu reaproveitamento após a utilização, e as infraestruturas de reciclagem em muitas regiões do mundo estão longe de ser ideais. Devido a estes desafios, a eliminação total de desperdício associado a produtos exige uma mudança sistémica e deve ser encarada como um esforço de longo prazo.
O primeiro passo de uma empresa rumo à sustentabilidade Future-Fit consiste em identificar todos os bens físicos que fornece a terceiros, bem como onde, como e por quem esses bens são utilizados ou transformados ao longo do seu ciclo de vida. Munida deste conhecimento, a empresa pode começar a explorar oportunidades de melhoria, através da inovação nos produtos, adaptação do seu modelo de negócio e colaboração com outras entidades na sua rede de valor.
Perguntas a colocar
As seguintes perguntas ajudam a identificar as informações a recolher.
A atividade comercial da empresa traduz-se em bens a trocar de mãos?
- A empresa vende bens físicos? Que tipos de embalagens são utilizados para transportar, proteger e exibir esses produtos?
- A empresa presta algum serviço comercial que resulta na entrega de bens ou materiais aos clientes?
- São fornecidos outros bens físicos a terceiros no âmbito das atividades principais da empresa, como materiais para pontos de venda, brindes promocionais ou serviços complementares?
- Onde e com quem acabam os bens, as embalagens e outros materiais quando a sua função é concluída? Nessa fase, é possível reciclá-los de forma eficaz? Como varia o potencial de reciclagem entre as diferentes regiões onde os produtos são vendidos?
- A empresa mantém uma relação direta (e capacidade de influenciar) com os seus clientes imediatos ou, caso sejam diferentes, com os utilizadores finais dos seus produtos? Existem pontos de contacto através de lojas próprias ou de parceiros?
A empresa concebe ou fabrica bens físicos?
- Esses bens servem como inputs que provavelmente serão combinados com outros materiais mais à frente na cadeia de valor? Se sim, a sua utilização facilita ou dificulta a reciclabilidade dos produtos finais a que dão origem (ex.: colagem de plástico a cartão de forma a impedir a separação limpa)?
- Os bens são totalmente consumidos durante a utilização (ex.: alimentos, catalisadores químicos) ou permanecem componentes – total ou parcialmente – após cumprirem a sua função? É possível separar facilmente as partes remanescentes em materiais homogéneos, de modo a maximizar o seu valor de recuperação?
Como definir prioridades
As seguintes perguntas ajudam a identificar e a priorizar ações de melhoria.
A empresa estabeleceu metas para reduzir, ao longo do tempo, o desperdício associado aos produtos?
- Em caso afirmativo, os compromissos existentes são suficientes para alcançar a sustentabilidade Future-Fit – não apenas no que diz respeito aos produtos geradores de receita, mas também à embalagem e a quaisquer outros bens físicos fornecidos a terceiros no âmbito das atividades comerciais?
- Quando as metas existentes forem insuficientes, de que forma poderão ser ajustadas ou complementadas?
- Caso ainda não existam compromissos para reduzir o desperdício de produtos, como poderiam ser definidas metas? De quem dependeria a respetiva aprovação? Quem deveria estar envolvido na conceção e implementação de procedimentos e incentivos que favoreçam a adoção dessas metas?
Quais são as melhores oportunidades para progredir?
- Onde é que as melhorias num único produto teriam o maior impacto para a empresa? Quais são os produtos com maiores volumes de venda? Quais são, atualmente, os menos recicláveis?
- Será possível substituir componentes dos bens físicos que não são fáceis de reaproveitar por outros que o sejam (ex.: trocar um plástico não reciclável por um reciclável)? Existem oportunidades para fazer estas substituições com redução de custos, como usar materiais reciclados em vez de matérias-primas virgens? Poderá uma alteração na embalagem coincidir com uma atualização prevista de marca ou de marketing?
Poderá a empresa ir além do exigido por este objetivo?
- • Além do necessário para atingir este objetivo, existem ações que a empresa possa realizar para garantir que não existe desperdício?177 2Qualquer ação nesse sentido pode acelerar o progresso da sociedade rumo à sustentabilidade Future-Fit. Para mais detalhes, consultar o Guia de Ações Positivas.
A próxima secção descreve os critérios de aptidãoavaliação necessários para determinar se uma ação específica resultará em progressos rumo à sustentabilidade Future-Fit.
2.2 Prosseguir rumo à sustentabilidade Future-Fit
Introdução
Para alcançar a sustentabilidade Future-Fit, todos os bens físicos fornecidos pela empresa a terceiros devem poder ser totalmente reaproveitados nas regiões ou mercados onde são vendidos.
Orientações sobre o que deve ser avaliadov
O progresso é ponderado com base na receita (para bens vendidos ou alugados) e com base no custo (para bens suplementares):
Bens vendidos ou alugados
Esta categoria abrange todos os bens oferecidos a clientes em troca de receita.
Bens suplementares
Esta categoria abrange quaisquer itens fornecidos a terceiros como apoio às atividades comerciais, mas que a empresa não considera como geradores de receita, incluindo:
- Embalagens que acabam nas mãos dos clientes (ex.: caixas, sacos de transporte).
- Material promocional e brindes, incluindo itens oferecidos com a compra de um produto (ex.: brinquedos incluídos em menus infantis).
- Bens que a empresa transfere para outras organizações antes de os produtos serem vendidos (ex.: expositores para pontos de venda fornecidos a parceiros retalhistas, materiais de expedição como paletes e películas fornecidas a parceiros de transporte externos).
- Quaisquer bens ou materiais utilizados na prestação de um serviço que acabem nas mãos dos clientes (ex.: bilhetes de viagem, recibos, routers de internet).
Classificação dos bens
Uma empresa pode, de forma plausível, classificar determinados bens como geradores de receita, ou como bens suplementares. Recomenda-se que esta decisão seja tomada durante a avaliação inicial de um material, aplicando-se o mesmo critério de forma consistente a todos os bens físicos que a empresa produz e distribui. Uma vez feita a classificação, esta não deve ser alterada em anos seguintes, exceto em casos excecionais em que a alteração permita que os dados reportados sejam mais fiáveis e relevantes.178
Orientações para análise dos mercados
Para que os clientes possam reaproveitar os materiais que lhes são fornecidos, devem ter acesso a instalações capazes de processar esses materiais. Assim, as empresas devem fornecer materiais que possam ser reaproveitados em qualquer região ou considerar as infraestruturas disponíveis aos seus clientes. A disponibilidade de serviços de recuperação deve ser avaliada em cada mercado, tendo em conta que estes serviços podem variar dentro de países ou regiões. Ao determinar quais as zonas – ou que proporção da população em cada zona – têm acesso a serviços de reciclagem, a empresa pode usar como referência estatísticas nacionais ou regionais disponíveis.
Idealmente, este objetivo asseguraria a existência de instalações sempre que os produtos ou materiais chegam ao fim da sua vida útil. No entanto, muitas empresas não conseguem acompanhar onde os seus produtos acabam por ser utilizados, nem conseguem influenciar esse destino. Por essa razão, este objetivo centra-se nos locais onde os produtos são vendidos, e não onde são utilizados.
Critérios de avalição
Um componente de um bem físico no fim de vida, disponibilizado num determinado mercado, está alinhado com o objetivo de reaproveitamento se todas as condições seguintes forem verdadeiras:
- Se for necessária a separação para fins de reaproveitamento, o componente pode ser separado dos restantes:
- Pelos serviços de reaproveitamento disponíveis; ou
- Pelo utilizador do produto, sem necessidade de orientação de terceiros nem de ferramentas especializadas.
- O utilizador tem acesso fácil a serviços de reaproveitamento adequados, conforme as seguintes situações:
- O produto é entregue ao utilizador num local físico onde a infraestrutura pública local de reciclagem permite o reaproveitamento dos componentes após a sua utilização;
- O produto é entregue ao utilizador num local físico (ex.: loja), onde está disponível um serviço de recolha que incentiva a devolução dos componentes no fim de vida;
- O produto é entregue ao cliente por correio ou transportadora (ex.: encomendado via Internet) e está disponível um serviço de devolução postal que incentiva a devolução dos componentes no fim de vida.
- O prestador do serviço de reaproveitamento consegue recuperar o componente para reutilização ou reciclagem como nova matéria-prima (para uso próprio ou de terceiros):
Componentes constituídos inteiramente por materiais naturais renováveis
Os materiais de origem renovável que são incinerados para produção de energia podem ser considerados alinhados com a sustentabilidade Future-Fit, desde que não sejam libertadas substâncias nocivas durante o processo. No entanto, deve ser salientado que a incineração continua a ser a opção menos desejável — a reutilização ou a reciclagem são sempre resultados preferíveis. [138]
3. Avaliação
3.1 Indicadores de progresso
O objetivo dos indicadores de progresso Future-Fit é refletir o grau de evolução de uma empresa no cumprimento de um determinado objetivo. Estes indicadores são expressos em percentagens simples.
Deve procurar-se avaliar a sustentabilidade Future-Fit da empresa em toda a extensão das suas atividades. Em algumas situações, tal pode não ser possível. Nestes casos, deve ser consultada a secção Avaliação e reporte com dados incompletos no Guia de Implementação.
Avaliação do progresso
Este objetivo tem dois indicadores de progresso. Para os calcular, devem ser seguidos os seguintes passos:
- Avaliar o alinhamento de cada componente de pós-uso de cada bem físico, em cada mercado (conforme descrito anteriormente);
- Avaliar o alinhamento de cada bem físico dentro de um mercado;
- Calcular o alinhamento de cada bem físico em todos os mercados onde é comercializado;
- Calcular o progresso da empresa para cada uma das duas categorias de bens:
- Bens vendidos ou alugados.
- Bens suplementares.
Avaliação do alinhamento de um componente c no mercado m
Um componente de pós-uso c de um bem físico comercializado no mercado m está X% alinhado para reaproveitamento, se:
- O utilizador tem acesso fácil a serviços de recuperação adequados, da seguinte forma:
- Esse componente de pós-uso pode ser separado de todos os outros componentes de pós-uso por esse serviço de recuperação, ou (caso não sejam necessários orientações ou ferramentas de terceiros) pelo próprio utilizador;
- O serviço de recuperação consegue processar esse componente de pós-uso de forma a ser reutilizado ou reciclado como uma nova matéria-prima (para utilização pela empresa ou por terceiros), sem libertação de substâncias nocivas.183
O alinhamento para reaproveitamento X% refere-se à percentagem de pessoas com acesso facilitado a infraestruturas capazes de recolher, desmontar e recuperar esse componente de pós-uso.184
Isto é expresso da seguinte forma: alinhamento do componente de pós-uso c no mercado m = fc,m = X%.
Se os componentes não tiverem sido avaliados, ou não puderem ser reaproveitados, reciclados ou recuperados, de forma segura como energia, no mercado onde são comercializados, devem ser considerados 0% alinhados.
Cálculo do alinhamento do bem físico p no mercado m
Quando, pelo menos, um dos componentes de pós-uso de um bem físico foi avaliado e identificado como alinhado para reaproveitamento, o alinhamento do bem físico p no mercado m pode ser calculado da seguinte forma:
- Calcular o contributo para o alinhamento de cada componente de pós-uso do bem físico, multiplicando o seu peso físico pelo percentual de alinhamento para reaproveitamento (conforme determinado no passo anterior).
- Somar os contributos para o alinhamento de todos os componentes de pós-uso avaliados.
- Somar o peso de todos os componentes de pós-uso do bem p, para obter o peso total.
- Calcular o alinhamento do bem físico p no mercado m como a proporção do seu peso que é alinhado para reaproveitamento.
Isto pode ser expresso matematicamente como:
\[f_{p,m}=\frac{\sum_{c=1}^CW_c*f_{c,m}}{W_T}\]
Onde:
| \[f_{p,m}\] | É o alinhamento do bem físico p no mercado m. |
| \[f_{c,m}\] | É o alinhamento para revalorização do componente pós-utilização c no mercado m. |
| \[C\] | É o número total de componentes pós-utilização que constituem o bem físico p. |
| \[W_c\] | É o peso do componente pós-utilização c. |
| \[W_T\] | É o peso total do bem físico p. |
Avaliação do alinhamento do bem físico p em todos os mercados
Quando o alinhamento para a sustentabilidade Future-Fit de um bem físico p tiver sido calculado para, pelo menos, um mercado, a empresa pode começar a calcular o alinhamento global para revalorização desse bem em todos os mercados. Isto é feito através da ponderação do alinhamento por mercado desse bem físico, de acordo com o número de unidades vendidas em cada mercado.
Isto pode ser expresso matematicamente da seguinte forma:
\[f_p=\frac{\sum_{m=1}^Mf_{p,m}*U_{p,m}}{\sum_{m=1}^MU_{p,m}}\]
Onde:
| \[f_{p}\] | É o alinhamento do bem físico p em todos os mercados. |
| \[f_{p,m}\] | É o alinhamento do bem físico p no mercado m. |
| \[U_{p,m}\] | É o número total de unidades de p vendidas ou distribuídas de outra forma no mercado m. |
| \[M\] | É o número total de mercados nos quais p é vendido ou distribuído de outra forma. |
Cálculo do progresso da empresa
Primeiro, é necessário determinar os totais de receitas e custos por bem, no período de reporte, para cada um dos bens avaliados.
O progresso global da empresa em direção a este objetivo pode agora ser calculado, para as duas categorias, como uma média ponderada de todos os bens físicos, da seguinte forma:
- Para bens vendidos ou alugados, deve utilizar-se a receita gerada como fator de ponderação.
- Para bens suplementares, deve utilizar-se o custo incorrido na produção desses bens como fator de ponderação.
Os cálculos de alinhamento para cada categoria devem ser realizados e reportados separadamente.
Estes cálculos podem ser expressos matematicamente da seguinte forma:
\[F=\frac{\sum_{p=1}^Pf_p*R_p}{\sum_{p=1}^PR_p}\]
Onde:
| \[F\] | É o progresso rumo à sustentabilidade Future-Fit em todas as categorias de bens físicos, expresso em percentagem. |
| \[f_p\] | É o alinhamento do bem físico p. |
| \[R_p\] | É o total de receitas geradas (ou custos associados) pelo bem p. |
| \[P\] | É o número total de bens físicos no portefólio da empresa. |
Para um exemplo de como calcular este indicador de progresso, ver aqui.
3.2 Indicadores de contexto
O objetivo dos indicadores de contexto é fornecer às partes interessadas as informações adicionais necessárias para interpretar de forma completa o progresso de uma empresa.
Receitas/custos totais
Para além dos três indicadores de progresso, as empresas devem reportar os montantes totais de receita e custo associados a cada uma das categorias, conforme indicado:
- Receita total dos bens vendidos ou alugados.
- Custo total dos bens suplementares.
As receitas/custos totais de cada categoria são equivalentes à soma dos valores de Rp na equação anterior, pelo que não é necessário recolher dados adicionais nem realizar cálculos extra.
Para um exemplo de como reportar os indicadores de contexto, consultar aqui.
4. Verificação
4.1 Para que serve a verificação e porque é importante
Qualquer empresa que esteja a trilhar o caminho da sustentabilidade Future-Fit incutirá mais confiança entre as suas partes interessadas - desde a administração de topo (CEO, CFO) até a investidores externos - se conseguir demonstrar a qualidade dos seus dados e a robustez dos controlos que os sustentam.
Isto é particularmente importante se a empresa pretender comunicar publicamente o seu progresso rumo à sustentabilidade Future-Fit, uma vez que algumas organizações podem exigir uma verificação independente antes da divulgação pública. Ao implementar controlos eficazes e bem documentados, a empresa facilita a compreensão do seu funcionamento por parte de auditores ou avaliadores externos, apoiando a sua capacidade de prestar garantia e/ou recomendar melhorias.
4.2 Recomendações para este objetivo
Os pontos seguintes destacam áreas que merecem especial atenção relativamente a este objetivo específico. Cada empresa e cada período de reporte são únicos, pelo que os processos de verificação e garantia variam: em qualquer situação, os auditores podem procurar avaliar diferentes controlos e evidências documentadas. Por conseguinte, estas recomendações devem ser entendidas como exemplos ilustrativos do que poderá ser solicitado, e não como uma lista exaustiva do que será exigido.
- Documentar os métodos utilizados para identificar todos os materiais incluídos pela empresa nas categorias de Bens vendidos ou alugados e Bens suplementares. Descrever como estes foram identificados pode ajudar os auditores a avaliar se a abordagem da empresa corre o risco de não identificar componentes materiais.
- Documentar os métodos utilizados para identificar os diferentes mercados onde os produtos da empresa são vendidos, bem como as infraestruturas disponíveis nesses mercados para que os clientes possam revalorizar os produtos. Isto pode ajudar os auditores a compreender a base das conclusões da empresa e a verificar se a avaliação das infraestruturas disponíveis foi suficiente.
- Documentar os resultados da análise das infraestruturas necessárias para a revalorização de cada categoria de bens da empresa, ao nível dos componentes. Esta informação, combinada com a avaliação das infraestruturas disponíveis para os clientes em cada mercado, pode servir de base para os auditores verificarem a conformidade dos produtos com os critérios de alinhamento.
- Conservar as referências às fontes de dados utilizadas para determinar os custos e as receitas dos bens avaliados. Isto pode ajudar os auditores a compreender e verificar os cálculos de ponderação realizados para obter o indicador de progresso da empresa.185
- • Documentar claramente o trabalho realizado em cada etapa dos cálculos do indicador de progresso definidos neste Guia de Ação. Isto pode facilitar a verificação dos cálculos por parte do auditor.
Para uma explicação mais geral sobre como conceber e documentar controlos internos, consultar a secção Rumo à sustentabilidade Future-Fit de forma sistemática no Guia de Implementação.
5. Informação adicional
5.1 Exemplo
A ACME Inc. vende produtos de limonada. Tem dois produtos geradores de receita: um em garrafas de vidro (com tampas de alumínio) e outro em garrafas de plástico, comercializados em dois mercados – A e B. Referimo-nos à limonada em garrafa de vidro como produto GL e à limonada em garrafa de plástico como produto PL.
Ambos os produtos podem ser facilmente desmontados nos seus componentes – vidro, alumínio e plástico. Em ambos os mercados, as garrafas de vidro podem ser recuperadas facilmente através da infraestrutura existente, acessível a toda a população. No entanto, as tampas de alumínio só são atualmente recicláveis no mercado B – e, mesmo assim, a reciclagem só está disponível, em média, para 60% das pessoas. As garrafas de plástico não são recicláveis em nenhum dos dois mercados. O alinhamento para revalorização de cada componente em cada mercado pode agora ser identificado da seguinte forma:
\[f_{Vid,A}=f_{Vid,B}=100\%\] \[f_{Alu,A}=0\%\] \[f_{Alu,B}=60\%\] \[f_{Plá,A}=f_{Plá,B}=0\%\]
Como o plástico é o único componente pós-utilização das garrafas de plástico, o produto PL tem 0% de alinhamento.
Para cada unidade do produto GL, o vidro pesa 50 g e a tampa de alumínio pesa 5 g. No mercado A, a empresa vende 5.000 unidades de GL, e no mercado B vende 1.000 unidades.
O alinhamento do produto GL nos respetivos mercados pode agora ser calculado da seguinte forma:
\[f_{GL,A}=\frac{W_{Vid,A}*f_{Vid,A}+W_{Alu,A}*f_{Alu,A}}{W_{Vid,A}+W_{Alu,A}}=\frac{50*100\%+5*0\%}{50+5}\approx91\%\]
\[f_{GL,B}=\frac{W_{Vid,B}*f_{Vid,B}+W_{Alu,B}*f_{Alu,B}}{W_{Vid,B}+W_{Alu,B}}=\frac{50*100\%+5*60\%}{50+5}\approx96\%\]
O alinhamento para revalorização do produto GL em todos os mercados é então calculado da seguinte forma:
\[f_{GL}=\frac{f_{GL,A}*U_{GL,A}+f_{GL,B}*U_{GL,B}}{U_{GL,A}+U_{GL,B}}=\frac{91\%*5,000+96\%*1,000}{6,000}\approx92\%\]
Os produtos GL e PL geram receitas totais de $300.000 e $430.000, respetivamente, nos mercados A e B. O progresso da empresa, considerando todos os produtos avaliados, pode agora ser calculado da seguinte forma:
\[F=\frac{f_{GL}*R_{GL}+f_{PL}*R_{PL}}{R_{GL}+R_{PL}}=\frac{92\%*300,000+0\%*430,000}{730,000}\approx38\%\]
Para os bens suplementares, a empresa realiza depois uma avaliação semelhante, relativamente à embalagem dos conjuntos de 20 garrafas, com um custo de $4.000, que não geram receita adicional, mas que os clientes recebem ao comprar limonada em grandes quantidades e que mais tarde têm de descartar. A ACME avalia também os materiais de transporte (compostos por paletes de madeira com um custo de $15.000, filme retrátil com um custo de $8.500 e embalagens com um custo de $60.000) que utiliza para enviar os seus produtos a retalhistas terceiros, mas que não são entregues aos consumidores. A ACME conclui que os seus bens suplementares apresentam um alinhamento de 72%, com base numa média ponderada pelo custo relativo de cada item dentro desta categoria.
A empresa reporta cada indicador de progresso e indicador de contexto da seguinte forma:
Bens vendidos ou alugados:
Pontuação de progresso = 38%
Receita total proveniente de bens vendidos ou alugados: $730.000
Bens suplementares:
Pontuação de progresso = 72%
Custo total dos bens suplementares: $87.500
5.3 Ligações úteis
The Ellen MacArthur Foundation
A Ellen MacArthur Foundation trabalha com empresas, governos e instituições académicas para construir um enquadramento para uma Economia Circular – uma economia concebida para ser restaurativa e regenerativa por princípio. Um dos seus trabalhos mais recentes é o Circularity Indicators Project, que disponibiliza às empresas uma metodologia e ferramentas para avaliar a circularidade de um produto.
5.2 Perguntas frequentes
A ponderação pela receita é sempre adequada?
Algumas organizações — como empresas em fase inicial, certas organizações sem fins lucrativos, divisões de empresas que operam como centros de custos, ou empresas focadas no desenvolvimento pré-produção — podem concluir que utilizar a receita como método de ponderação para avaliar o progresso pode transmitir uma imagem distorcida da realidade.
Esses casos são, no entanto, provavelmente raros, uma vez que mesmo as empresas que não vendem diretamente bens ou serviços precisam de cobrir os seus custos e, por isso, recebem alguma forma de capital monetário, serviços em espécie ou trabalho voluntário. Esses recursos são direcionados para atividades operacionais que, por sua vez, visam satisfazer necessidades dos clientes. Assim, em muitos casos, é possível associar o financiamento indireto (como aproximação à receita) aos respetivos grupos de utilizadores a jusante.
Quando isso não for possível, ou se se concluir que esta abordagem pode induzir as partes interessadas (stakeholders) em erro, as empresas devem considerar utilizar os custos em vez da receita como base para avaliar a completude da sua análise e para ponderar os seus indicadores de progresso.
Bibliografia
Nenhuma empresa consegue controlar completamente o comportamento dos seus clientes, pelo que a responsabilidade recai sobre a empresa para maximizar a probabilidade de que os seus produtos não acabem como desperdício. A composição pós-utilização de produtos duráveis, como um carro ou um telemóvel, será a mesma de quando eram novos. Mas, para muitos produtos consumíveis, como alimentos ou champôs, a embalagem pode ser tudo o que resta.↩︎
Esta é uma das oito Propriedades de uma Sociedade Future-Fit – para mais detalhes, ver o Guia de Metodologia.↩︎
A empresa deve abordar a forma como classifica os bens nestas categorias da mesma forma que aplica uma política contabilística. Por este motivo, a terminologia utilizada aqui reflete a usada na Norma Internacional de Contabilidade 8.14. [125]↩︎
Note-se que a incineração de um componente para extração de energia não é suficiente.↩︎
Se a decomposição exigir um ambiente especializado, um componente biodegradável só é considerado adequado se os serviços de recuperação disponíveis proporcionarem esse ambiente (ex.: os plásticos oxo-biodegradáveis requerem oxigénio para se decompor, pelo que não se degradam no ambiente anaeróbico de um aterro). Ver a secção Definições para mais detalhes.↩︎
Para efeitos de avaliação da disponibilidade de serviços de reciclagem nos mercados, a empresa pode usar estatísticas nacionais ou regionais disponíveis como referência.↩︎
Ver a nota anterior.↩︎
Note-se que a incineração de um componente para extração de energia não é suficiente.↩︎
Por exemplo, num mercado onde a empresa depende de um programa de reciclagem estabelecido que fornece serviços adequados de recuperação a 60% das pessoas, o valor de ‘X’ será igual a 60%.↩︎
10 Isto é relevante para vários Objetivos de Limite Mínimo relacionados com produtos.↩︎