5. Orientações práticas para as empresas

Os objetivos podem ser comparados à orientação de uma bússola que guia um navio… Sem essa direção, o navio não encontraria o seu porto nem conseguiria estimar o tempo necessário para lá chegar.

Peter Drucker

5.1 Rumo a uma Empresa Future-Fit

O que devem fazer as empresas?

Muitos tipos de negócio - estúdios de cinema, casas de moda e vendedores de gelados, para dar alguns exemplos - não tentam resolver os maiores desafios da sociedade. Isto não os torna “maus” nem incompatíveis com uma Sociedade Future-Fit: muitos poderão dizer que a vida seria monótona sem grandes filmes, roupas bonitas ou um doce ocasional.

Outras empresas têm modelos de negócio que estão mais obviamente alinhados com necessidades sociais - como os produtores alimentares ou farmacêuticos - mas isso não significa que sejam inerentemente “boas”. Mesmo que os seus produtos sejam benéficos, podem assentar em práticas que agravam os problemas sistémicos.

O que importa, numa perspetiva de sistema, é que uma Empresa Future-Fit não comprometa – e idealmente aumente – a possibilidade dos seres humanos e todas as formas de vida florescerem na Terra para sempre.

Elaborar orientações práticas.

Como vimos no capítulo anterior, trata-se de atingir um conjunto de limiares ambientais e sociais que constituem o ponto de equilíbrio extra-financeiro para a criação de valor, através do Triple Bottom Line. Neste capítulo, identificamos exatamente o que isto significa num contexto empresarial.

Para que qualquer ferramenta seja eficaz, tem de ser útil e utilizável, e o Future-Fit Business Benchmark não é exceção. Para traduzir os requisitos da sociedade em orientações acionáveis para as empresas, foi necessário responder a duas questões:

  • Requisitos para as empresas: O que os líderes empresariais e os investidores precisam para estarem preparados para este desafio?
  • Papel e alcance das empresas: O que pode - e o que deve - cada empresa fazer, dentro e fora da sua cadeia de valor, para contribuir para uma Sociedade Future-Fit?

Cada uma destas áreas é abordada de seguida.

5.2 Requisitos para as empresas

Em teoria, qualquer empresa poderia pegar nos requisitos para uma Sociedade Future-Fit acima apresentados e deduzir como a sua atividade precisa de mudar. Na prática, apenas as empresas mais progressistas estarão dispostas a investir o esforço necessário para descobrir como o fazer. Além disso, é provável que, deixadas à sua própria sorte, duas empresas - mesmo dentro do mesmo setor - enquadrem as suas ambições e avaliem os seus progressos de formas completamente diferentes.

Isto está longe de ser ideal: temos um destino comum em mente - uma Sociedade Future-Fit - por isso, por que razão não haveríamos de acompanhar os compromissos e os progressos da mesma forma? De facto, há quatro boas razões para o fazermos:

A pressão entre pares impulsiona o progresso.

Embora todas as empresas devam manter-se concentradas no destino, procurarão sempre compreender o que os seus concorrentes estão a fazer - e, como resultado, poderão ser incentivadas a melhorar o seu próprio desempenho. Se todos olharem para o progresso de uma forma semelhante, será mais fácil para uma empresa perceber como está posicionada em relação às outras, no caminho certo rumo ao objetivo final.

Os investidores querem identificar os verdadeiros líderes.

A falta de comparabilidade entre as metas ambientais e sociais das empresas torna difícil, mesmo para o investidor mais diligente, determinar quais as empresas que mais estão a fazer para se prepararem para os riscos sistémicos e abrirem novas oportunidades de crescimento. Um conjunto de indicadores concisos, comparáveis e agregáveis, que enquadrem as ações de curto prazo no contexto de ambições significativas de longo prazo, resolveria este problema.

A colaboração requer uma visão e objetivos partilhados.

Parcerias eficazes são fundamentais para que qualquer empresa - e muito mais a sociedade no seu todo - se torne Future-Fit. Uma série consistente de objetivos pode ajudar todas as organizações de uma cadeia de valor a descobrir como trabalhar em conjunto, para melhorar a sua sustentabilidade Future-Fit.

É necessária uma abordagem holística para evitar compromissos inconscientes.

Tal como descrito sobre o papel de cada sistema social, há muitas formas de uma empresa gerar impacto positivo, e todos esses esforços devem ser encorajados. Dito isto, nenhuma tentativa de “fazer o bem” pode justificar a falta de progresso necessário noutras áreas essenciais, porque os impactos positivos e negativos raramente se anulam.5 Um enquadramento unificado, que englobe todas as possíveis contribuições positivas e negativas para uma Sociedade Future-Fit, pode ajudar a garantir que, mesmo a empresa mais focada, não perde de vista o panorama geral.

Seja qual for o impacto positivo que uma empresa gere, ela tem de se tornar Future-Fit, antes de poder afirmar com confiança que está a criar valor para o sistema.

Dotar líderes empresariais e investidores do que necessitam.

As considerações anteriores serviram de base para a fase crucial do desenvolvimento do referencial (Benchmark): traduzir os conceitos apresentados até agora num conjunto de Objetivos de Limite Mínimo (Break-Even Goals), Ações Positivas (Positive Pursuits) e indicadores de desempenho complementares (ver Figura 5.1).

A secção seguinte descreve a metodologia de desenvolvimento utilizada.

Figure 5.1: A anatomia do Future-Fit Business Benchmark.

5.3 O papel e o alcance das empresas

O que todas as empresas devem fazer e o que qualquer empresa pode fazer.

As condições do sistema FSSD introduzidas acima oferecem uma base sólida e científica para identificar o que cada empresa deve fazer, bem como o que qualquer empresa pode fazer além disso.

Uma empresa atinge o ponto de equilíbrio extra-financeiro - e assim torna-se Future-Fit – apenas quando a sua existência não contribui de forma alguma para a violação das condições do sistema, dentro e fora das suas próprias quatro paredes.

Além disso - e mesmo antes de se tornar Future-Fit - uma empresa pode procurar obter resultados positivos que acelerem o progresso da sociedade rumo à sustentabilidade, atuando para reparar as violações passadas das condições do sistema, ou ajudando outros a evitar futuras violações.

O alcance da influência empresarial.

Para compreender o que significa para uma empresa não contribuir para a violação das condições do sistema, temos de ser claros sobre a extensão do seu potencial de influência sobre outros.

Cada empresa é apenas um ator numa rede de valor complexa e dinâmica, que influencia e é influenciada por uma vasta gama de outros sistemas sociais. Podemos segmentar a rede de valor em quatro domínios:

  • Fornecedores: Engloba todos os envolvidos na produção dos recursos (inputs) de que a empresa depende, bem como todos os afetados por essas atividades - incluindo trabalhadores e comunidades ao longo das suas cadeias de abastecimento.
  • Operações: Refere-se às próprias atividades empresa, incluindo as comunidades e os trabalhadores que as sustentam.
  • Produtos: Abrange os bens e serviços geradores de receitas, e os indivíduos, empresas, ou outros atores que beneficiam ou são afetados por eles.
  • Sociedade: Inclui outras organizações, infraestruturas físicas e instituições sociais comuns que a empresa pode influenciar e/ou pelas quais ser influenciada.

Esta segmentação da rede de valor serve de base para determinar duas coisas. Primeiro, até que ponto uma empresa deve ser responsabilizada por violações das condições do sistema. Em segundo lugar, o grau em que uma empresa pode procurar ter um impacto positivo - e ser reconhecida por isso - revertendo os efeitos de violações passadas, ou ajudando outros a evitar futuras violações.

Estes dois aspetos complementares da jornada para a sustentabilidade Future-Fit - responsabilidade pela eliminação do impacto negativo e reconhecimento do impacto positivo - estão resumidos na Figura 5.2 e são descritos em pormenor mais adiante.

Figura 5.2: Mapeamento do Requisito para a Sociedade no Papel e Alcance da Empresa, para identificar o que a empresa pode e deve fazer em relação às condições do sistema.

Responsabilidade empresarial por impactos negativos na teia de valor

Poucos contestariam a noção de que uma empresa é plenamente responsável pelos impactos que estão sob o seu controlo direto, como aqueles relacionados com as suas operações diárias ou com o design dos seus produtos. No entanto, de uma perspetiva sistémica, uma empresa é também mutuamente responsável por determinados impactos fora do seu controlo direto:

Uma empresa é mutuamente responsável por qualquer impacto para além das suas quatro paredes, na medida em que esse impacto resulta da sua própria existência.

Para identificar o ponto de equilíbrio/limite mínimo (break-even point) que cada empresa deve atingir, esta definição de responsabilidade mútua deve ser aplicada nas quatro áreas da cadeia de valor.

Limite Mínimo em relação aos fornecedores.

Nenhuma empresa pode ser Future-Fit se o seu sucesso depender da utilização de recursos que, por si só, causam violações das condições do sistema. Assim, a responsabilidade mútua aqui é sobre não externalizar as violações através das cadeias de fornecimento da empresa. Os requisitos exatos variam da seguinte forma:

  • Funções essenciais externalizadas: Quando uma empresa subcontrata qualquer atividade que, de outro modo, teria de realizar internamente (ex: apoio ao cliente, fabrico, logística), subcontrata também todos os impactos negativos associados a essa atividade. Por conseguinte, uma empresa é mutuamente responsável por evitar ou mitigar todas as violações das condições do sistema causadas pela prestação dessas funções.

  • Inputs de produtos (recursos): Nenhuma empresa consegue produzir bens físicos - ou oferecer serviços cuja entrega envolva o consumo desses bens - sem recorrer a matérias-primas, componentes, etc. Por conseguinte, a responsabilidade mútua exige que uma empresa trabalhe para antecipar, evitar ou corrigir todos os impactos associados ao ciclo de vida desses inputs de produto até à porta da fábrica (cradle-to-gate).

  • Bens e despesas acessórios: Esta categoria engloba três tipos de compras. Em primeiro lugar, os serviços utilizados ocasionalmente (ex: consultoria, táxis, voos e estadias em viagens de trabalho). Em segundo lugar, bens de uso corrente (ex: material de escritório, produtos de limpeza). Em terceiro lugar, os ativos adquiridos ou alugados que apoiam as atividades (ex: edifícios, equipamento informático, máquinas, mobiliário). A empresa pode, geralmente, escolher entre várias opções semelhantes no mercado, embora a sua influência direta sobre cada fornecedor seja reduzida. Assim, a responsabilidade mútua traduz-se em selecionar a melhor opção disponível.

As cadeias de abastecimento globais atuais podem ser altamente complexas e opacas. A rastreabilidade dos fatores de produção das empresas - e dos seus impactos resultantes - é, por isso, um desafio significativo. No entanto, a ignorância não é uma justificação válida e uma empresa é totalmente responsável por fazer tudo o que estiver ao seu alcance, através das suas práticas de aprovisionamento, para antecipar, evitar e corrigir continuamente os pontos críticos da cadeia de valor, até que os requisitos acima referidos sejam cumpridos.

Limite Mínimo em relação às operações.

Uma empresa é plenamente responsável por eliminar os impactos ambientais e sociais negativos causados pelas suas próprias atividades, incluindo aqueles que resultam das ações dos seus colaboradores. Não é possível controlar completamente o comportamento de cada indivíduo dentro da organização, mas a empresa deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para antecipar e evitar problemas — e para resolver eficazmente qualquer situação que venha a surgir.

Limite Mínimo em relação aos produtos.

Uma empresa deve fazer tudo o que puder para garantir que os bens e serviços que oferece não prejudicam as pessoas nem o ambiente, mas não se pode esperar que exerça controlo total sobre as ações dos seus clientes. Assim, considera-se que a empresa é mutuamente responsável por impactos que sejam inevitáveis, prováveis ou previsíveis, resultantes da utilização dos seus produtos e — no caso de bens físicos — do seu tratamento após o uso.

Por exemplo, se uma empresa vende um automóvel com motor de combustão interna, então — porque o condutor não tem alternativa quanto ao funcionamento do motor — a empresa é mutuamente responsável pelas emissões de gases com efeito de estufa geradas durante a utilização do carro. Por outro lado, se a empresa vende um carro elétrico, o condutor pode optar por utilizar eletricidade proveniente de fontes renováveis para carregar a bateria. Neste caso, a empresa não é mutuamente responsável por quaisquer emissões que ocorram (durante a geração de eletricidade), se o cliente escolher uma fonte energética com emissões de carbono.

Limite Mínimo em relação à sociedade.

Uma empresa deve agir de forma ética e não pode — seja por ação (como fazer lóbi contra legislação progressista), ou por inação (como não pagar impostos de forma adequada) — comprometer a integridade das instituições sociais e das infraestruturas físicas de que todos dependemos.

A empresa é também mutuamente responsável pelos impactos dos seus ativos financeiros. Toda a organização está condicionada, nas suas ações, pelo acesso ao capital, e as empresas têm o poder de facilitar esse acesso, sob a forma de investimentos ou empréstimos. Por isso, as empresas devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que não financiam atividades cujo sucesso dependa de violações das condições do sistema (ex: conceder financiamento a projetos para a construção de centrais termoelétricas a carvão).

Reconhecimento empresarial dos impactos positivos em toda a cadeia de valor

Recordemos que uma empresa pode gerar impactos positivos, quer atuando para corrigir violações passadas das condições do sistema, quer ajudando outros a evitar violações futuras. Mais uma vez, analisamos sucessivamente as quatro áreas da cadeia de valor.

Ações Positivas em relação aos fornecedores.

Como explicado acima, uma empresa não pode ser considerada Future-Fit em relação aos seus fornecedores até ter efetivamente evitado ou tratado todos os impactos negativos que ocorrem nas suas cadeias de abastecimento.

Atingir este nível de desempenho - particularmente para produtos com cadeias de abastecimento complexas e multifacetadas - pode exigir tempo e esforço consideráveis.

No entanto, há uma grande diferença entre esperar que a cadeia de abastecimento melhore por si só e intervir ativamente para a melhorar. Assim, qualquer ação que uma empresa tome para ajudar um fornecedor a atingir o Limite Mínimo constitui uma Ação Positiva (Positive Pursuit).

Por exemplo, uma empresa que adquire um produto agrícola proveniente de uma região com escassez de água pode oferecer apoio financeiro e/ou especializado aos fornecedores locais, para que estes instalem tecnologia de irrigação gota-a-gota, reduzindo drasticamente a pegada hídrica desse recurso

A empresa pode ainda gerar resultados positivos ao ajudar os fornecedores a reverter danos ambientais anteriores (ex: restaurando florestas anteriormente desmatadas), ou ao aumentar as oportunidades económicas de grupos marginalizados (ex: facilitando o acesso de pequenos agricultores a mercados de matérias-primas agrícolas em regiões remotas).

Ações Positivas em relação às operações.

Uma empresa tem controlo total sobre as suas próprias atividades operacionais, pelo que a redução gradual dos seus próprios impactos negativos para atingir o limite mínimo não conta como uma Ação Positiva.

No entanto, uma empresa pode obter resultados positivos através das suas próprias operações se for além do Limite Mínimo (Break-Even) e começar a reverter os impactos ambientais (ex: produzindo mais energia renovável do que necessita e devolvendo o excedente à rede), ou promovendo a inclusão social, procurando ativamente empregar pessoas de grupos tradicionalmente excluídos.

Ações Positivas em relação aos produtos.

Uma empresa pode alcançar um resultado positivo se os seus produtos permitirem que os clientes eliminem os seus próprios impactos negativos (ex: reduzindo drasticamente a dependência de combustíveis fósseis ou de água potável) — ou mesmo se permitirem que os próprios clientes gerem impactos positivos.

Contudo, avaliar com confiança — e credibilidade — o impacto positivo de um produto é difícil, pois o benefício do seu uso depende sempre das alternativas disponíveis. Por exemplo, pensemos num SUV a gasolina altamente eficiente: se um cliente trocar um carro compacto ainda mais eficiente por esse SUV, a variação líquida das emissões de gases com efeito de estufa será prejudicial, apesar da melhoria tecnológica.

O argumento é mais forte no caso de produtos que eliminam completamente um impacto negativo — como um SUV alimentado apenas por eletricidade. Mas mesmo aqui, e se o cliente pudesse satisfazer as suas necessidades de mobilidade através de transportes públicos mais eficientes em termos energéticos?

Não há respostas fáceis — e mesmo a empresa mais bem-intencionada pode ser acusada de greenwashing se as suas afirmações de impacto positivo forem exageradas.

Ainda assim, há duas formas eficazes de aumentar a probabilidade de um produto gerar um impacto positivo mensurável: oferecer bens ou serviços cuja utilização reverta danos ambientais anteriores (ex: tecnologia para descontaminar rios poluídos); permitir que grupos vulneráveis satisfaçam as suas necessidades básicas (ex: fornecendo energia limpa ou cuidados de saúde acessíveis a populações rurais com poucos recursos), contribuindo assim para superar barreiras à inclusão social e ao bem-estar.

Ações Positivas em relação à sociedade.

Tal como referido no contexto económico, não existe um botão mágico que possamos premir para reorientar o nosso sistema económico no sentido da sustentabilidade Future-Fit. Mas pode surgir um novo paradigma de crescimento se trabalharmos em conjunto para transformar normas sociais, sistemas de governação, infraestruturas partilhadas e mecanismos de mercado.

Qualquer empresa pode contribuir ativamente para esta mudança, através da sua influência corporativa e/ou de marca, das suas competências técnicas, ou da forma como decide investir o seu capital financeiro.

5.4 Derivar os Objetivos de Limite Mínimo, Ações Positivas e Indicadores

5.4.1 Objetivos Limite Mínimo (Break-Even Goals)

Os Objetivos de Limite Mínimo foram formulados para oferecer aos líderes empresariais um destino claro a atingir, de tal forma que:

  • Cada objetivo é expresso numa única frase, cujo significado pode ser compreendido pelos líderes empresariais, investidores e outras partes interessadas, sem longas explicações.
  • Cada objetivo representa o nível mínimo de desempenho a atingir numa parte da cadeia de valor (ex: produtos, operações) e está relacionado com um único tema (ex: salários, resíduos).
  • Todos os objetivos em conjunto identificam o limite mínimo social e ambiental que cada empresa deve atingir.

Para definir estes objetivos, foi necessário examinar primeiro todas as formas como uma empresa poderia violar as condições do sistema - e assim abrandar o progresso rumo à concretização das Propriedades de uma Sociedade Future-Fit (Figura 4.2).

O passo seguinte foi identificar os comportamentos que teriam de estar assegurados, para garantir que tais violações não ocorrem. Finalmente, estes comportamentos foram traduzidos num conjunto de Objetivos de Limite Mínimo claros e concisos. A Figura 5.3 resume este processo, e os pormenores do mapeamento podem ser encontrados no Apêndice 2. Os objetivos propriamente ditos são apresentados no capítulo seguinte.

Figura 5.3: Como foram definidos os Objetivos de Limite Mínimo Future-Fit.

5.4.2 Indicadores de Limite Mínimo

Os líderes empresariais precisam de monitorizar o desempenho e definir prioridades para as áreas onde a ação é mais necessária. Além disso, os investidores e outras partes interessadas precisam de fazer comparações significativas entre empresas, para compreenderem quem está a liderar o caminho rumo à sustentabilidade Future-Fit. Por isso, é essencial dispor de um método consistente de avaliar o progresso, em direção a cada Objetivo de Limite Mínimo.

Critérios de conceção dos indicadores.

No desenvolvimento dos indicadores, foram utilizados os seguintes critérios:

Calculável…

  • Todos os dados necessários para calcular o valor de um indicador devem estar ao alcance da empresa, mesmo que esta ainda não os recolha atualmente.
  • Cada indicador deve ser calculável, mesmo que uma empresa não conheça todos os seus impactos (ex: pode não saber a origem de um material comprado, ou as emissões de um determinado local). Assim, os indicadores devem ter em conta as lacunas de conhecimento.
  • Cada indicador deve incentivar a empresa a colmatar as suas lacunas de conhecimento, sem nunca penalizar a obtenção de nova informação (ex: descobrir que um determinado produto tem um impacto negativo não deve melhorar o resultado da empresa, mas também não deve reduzi-lo).

Comparável…

  • Cada indicador deve medir o desempenho de forma consistente em qualquer empresa, independentemente da dimensão, do setor ou da localização.

Completo…

  • Os indicadores devem abranger todo o âmbito da responsabilidade de uma empresa, incluindo todas as atividades relevantes realizadas por ela ou em seu nome, em toda a cadeia de valor.

Conciso…

  • Cada indicador deve captar o desempenho, no contexto da entidade que for mais relevante para o objetivo (ex: por produto ou por empregado). Isto assegura que a empresa é capaz de identificar com clareza onde é mais urgente atuar.
  • Cada indicador deve agregar os dados por entidade num único valor (ou no menor número possível, caso um único valor não seja significativo), representando o progresso global da empresa. Além disso, o desempenho de cada entidade deve ser medido de acordo com a sua contribuição global para a atividade.
  • Tanto a nível micro (por entidade) como macro (empresa no seu todo), deve ser possível expressar o progresso em direção ao ponto de equilíbrio com uma percentagem.

Credível…

  • Cada indicador deve basear-se em ciência reconhecida e captar com precisão o “espírito” do objetivo que procura medir.
  • Cada indicador deve recorrer, sempre que possível, aos melhores recursos de terceiros disponíveis, como normas independentes do setor reconhecidas, desde que estejam em conformidade com o nível de desempenho exigido.
Evolução dos indicadores

Um primeiro conjunto de Indicadores de Limite Mínimo foi apresentado na Versão 1. Tal como os Objetivos de Limite Mínimo, estes indicadores foram aperfeiçoados com base no feedback dos primeiros utilizadores.

Uma das melhorias mais significativas foi o facto de cada objetivo passar a estar agora suportado por dois tipos de indicadores: de progresso e de contexto. O objetivo não é sobrecarregar as empresas com mais métricas a acompanhar, mas sim ajudá-las a enquadrar o seu progresso, proporcionando uma melhor perceção sobre a eficácia da otimização de recursos e a distância que ainda as separa do ponto de equilíbrio.

Vejamos, por exemplo, o objetivo A utilização da água é ambientalmente responsável e socialmente equitativa. Este objetivo tem duas dimensões, relacionadas com quantidade e qualidade. Por um lado, a empresa deve reduzir — e eventualmente eliminar — o consumo de água em regiões com stress hídrico. Por outro, deve garantir que as suas descargas não degradam a qualidade dos corpos hídricos ou dos solos onde são libertadas, nem causam outros danos. Para apresentar uma visão completa, o objetivo é acompanhado por quatro indicadores: dois indicadores de progresso, que avaliam o grau de cumprimento (em percentagem) relativamente ao consumo e à descarga de água; dois indicadores de contexto, que registam os valores totais de água consumida e descarregada, respetivamente.

Importa referir que, em conformidade com o critério de conceção Conciso…, só são utilizados indicadores adicionais quando contribuem efetivamente para uma melhor tomada de decisão empresarial.

Para mais informações sobre Indicadores de Limite Mínimo, consulte os guias de ação.

5.4.3 Ações Positivas (Positive Pursuits)

As Ações Positivas foram formuladas para ajudar os líderes empresariais a contribuir ativamente para a sustentabilidade Future-Fit da sociedade, de modo que:

  • Cada Ação Positiva é expressa numa única frase, cujo significado pode ser compreendido por líderes empresariais, investidores e outras partes interessadas, sem longas explicações;
  • Cada Ação Positiva identifica uma forma de reverter os efeitos de impactos ambientais ou sociais negativos ocorridos no passado, ou de ajudar outros a evitar impactos negativos no futuro;
  • Cada Ação Positiva refere-se a um tipo específico de resultado pretendido, que pode ser gerado em qualquer ponto da cadeia de valor, e que, por isso, abrange um leque de possíveis ações — desde a melhoria do desempenho dos fornecedores, até à oferta de produtos benéficos, ou ao reforço das capacidades de mercados e instituições para promover a sustentabilidade Future-Fit.

Para definir estas Ações Positivas, foi primeiro necessário analisar de que forma uma empresa pode atuar para corrigir violações passadas das condições do sistema, ou ajudar outros a evitar violações futuras – e, assim, acelerar o progresso rumo à concretização das Propriedades de uma Sociedade Future-Fit (Figura 4.2).

O passo seguinte consistiu em agrupar estes comportamentos num conjunto claro e conciso de resultados que uma empresa pode procurar obter. A Figura 5.4 resume este processo e os pormenores do mapeamento podem ser consultados no Apêndice 2.

Figura 5.4: Como foram definidas as Ações Positivas Future-Fit.

5.4.4 Indicadores positivos

Existe um número potencialmente infinito de formas pelas quais uma empresa pode concretizar uma Ação Positiva. Por exemplo, alcançar o resultado Mais pessoas estão saudáveis e protegidas de danos — ao reduzir o impacto da diabetes nas populações mais pobres do mundo — pode passar por educar as pessoas sobre escolhas alimentares saudáveis, fornecer acesso a insulina acessível, ou formar profissionais de saúde para identificar e tratar a doença antes que os sintomas se agravem.

Esta diversidade de abordagens torna difícil avaliar e comunicar dois projetos distintos de forma consistente e comparável. Contudo, procurar fazê-lo é fundamental, tanto para informar decisões sobre projetos futuros, como para apresentar os resultados a investidores e outras partes interessadas de forma significativa.

A necessidade de uma linguagem comum para descrever o impacto levou à criação do Impact Management Project (IMP) (ver caixa).

A Future-Fit Foundation é uma das organizações autoras do IMP, e a sua abordagem à avaliação de resultados positivos inspira-se profundamente nesse trabalho. Estamos comprometidos em atualizar a nossa orientação, em alinhamento com esta iniciativa intersectorial, à medida que ela continua a evoluir. Para mais detalhes, ver o [Guia das Ações Positivas] (Positive Pursuit Guide) (#pp).

Apresentação do Impact Management Project (IMP)

Entre 2016 e 2018, o IMP reuniu mais de 2.000 profissionais de diferentes regiões e disciplinas, para alcançar um consenso sobre como gerir, medir e falar sobre o impacto — cruzando as perspetivas de empresas, organizações sem fins lucrativos, investidores, investigadores de ciências sociais, financiadores, avaliadores, decisores políticos, entidades reguladoras e contabilistas. Este grupo diverso chegou a uma definição partilhada de “impacto” e acordou sobre os tipos de dados que devem constar em qualquer estrutura ou relatório de impacto robusto. [18]

Bibliografia

[18]
Impact Management Project [Online]. Available: https://www.theimpactprogramme.org.uk/portfolio/impact-management-project/. [Accessed: 01-Dec-2023]

  1. As emissões de gases com efeito de estufa são a exceção notável: um quilo de CO2 emitido numa parte do mundo pode ser “anulado” por outra parte retirada da atmosfera em outro lugar.↩︎