BE06: GEE Operacionais

As operações não emitem gases com efeito de estufa

1. Ambição

Uma empresa Future-Fit emite zero emissões líquidas de gases com efeito de estufa (GEE) resultantes das suas próprias atividades operacionais, incluindo a energia que consome.

1.1 O que significa este objetivo

Já não há dúvidas de que o aumento sistemático da concentração de gases com efeito de estufa (GEE) na atmosfera — resultante da combustão e de outros processos causados por atividade humana — está a contribuir para as alterações climáticas e para a acidificação dos oceanos. As empresas devem agir em conformidade, assegurando que as suas operações não causam emissões de GEE.

A natureza consegue absorver, de forma segura, uma parte das emissões humanas de GEE todos os anos. No entanto, o imperativo Future-Fit exige que as empresas eliminem todas as emissões operacionais de GEE. Isto porque estamos perigosamente perto de atingir níveis atmosféricos de GEE que seriam catastróficos para a sociedade. Qualquer tentativa de repartir o orçamento de carbono remanescente entre empresas será, muito provavelmente, demasiado complexa, controversa e/ou demorada para gerar a escala e a rapidez de redução que hoje se exigem.

Para ser Future-Fit, uma empresa deve emitir zero emissões líquidas de GEE como resultado das suas atividades operacionais e do consumo de energia. Neste contexto, emissões líquidas de GEE significa o total de emissões de GEE, deduzidas as emissões que tenham sido permanentemente sequestradas ou devidamente compensadas.

1.2 Porque é que este objetivo é necessário

Tal como todos os Objetivos de Limite Mínimo Future-Fit, este objetivo é essencial para garantir que a empresa não está a comprometer o progresso da sociedade rumo a um futuro ambientalmente restaurativo, socialmente justo e economicamente inclusivo. Para saber mais sobre a base científica destes objetivos — fundamentada em mais de 30 anos de ciência sistémica — consulte o Guia de Metodologia.

As estatísticas seguintes ajudam a ilustrar por que razão é crítico que todas as empresas alcancem este objetivo:

  • Os níveis atuais de GEE são os mais elevados que o planeta registou em milhões de anos, com consequências potencialmente catastróficas. Em 2015, os níveis de CO2 ultrapassaram as 400 ppm, mais de 40% acima do valor pré-industrial de 280 ppm — um nível que não se verificava na Terra há vários milhões de anos. [72]
  • A ação empresarial para eliminar emissões de GEE pode ter um impacto enorme no combate às alterações climáticas. Apenas 100 empresas foram responsáveis por mais de 70% das emissões globais de GEE desde 1988. [73]
  • É possível crescer economicamente ao mesmo tempo que se reduzem as emissões. Em 2016, a economia global cresceu 3,1%, mas as emissões de CO2 provenientes da produção de energia mantiveram-se inalteradas. As emissões de CO2 na Europa, nos Estados Unidos e na China também diminuíram. [74]

1.3 Como este objetivo contribui para os ODS

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas consituem uma resposta coletiva aos maiores desafios sistémicos do mundo, pelo que estão naturalmente interligados. Qualquer ação pode ter um impacto direto sobre alguns ODS e, indiretamente, sobre outros, através de efeitos de arrastamento. Uma empresa Future-Fit pode ter a certeza de que está a contribuir - e de forma nenhuma a prejudicar - o progresso em direção aos ODS.

As empresas podem contribuir para vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ao eliminar as suas emissões operacionais de gases com efeito de estufa e ao incentivar ativamente os seus fornecedores a fazer o mesmo. No entanto, as ligações mais diretas relativamente a este objetivo são:

         Ligação a este Objetivo de Limite Mínimo
SDG 13 Apoiar os esforços para reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação face a perigos climáticos e catástrofes naturais, bem como integrar medidas de combate às alterações climáticas nas políticas, na estratégia e no planeamento da empresa.

2. Ação

2.1 Por onde começar

Contextualização

Independentemente do setor, todas as empresas contribuem para o aumento da concentração de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), mesmo que apenas através do consumo de energia e da dependência de redes de transporte globais, alimentadas, maioritariamente, por combustíveis fósseis.

As empresas podem iniciar o percurso rumo à sustentabilidade Future-Fit analisando as suas operações para identificar todas as fontes potenciais de emissões de GEE nos âmbitos 1 e 2 [75] bem como eventuais dificuldades na recolha de informação. Este processo permite começar a medir e a gerir as emissões de GEE — desde a identificação de processos problemáticos e implementação de medidas de eficiência, até à produção de energia renovável fora da rede, ao sequestro de GEE e à sua prevenção.

Perguntas a colocar

As seguintes perguntas ajudam a identificar as informações a recolher.

De onde provêm as emissões de GEE da empresa?
  • Qual o âmbito (Scope) que representa a maior proporção das emissões? De que atividades provêm essas emissões?
  • A empresa conhece o perfil de emissões de GEE de cada um dos locais que controla? Já foram avaliados os ativos e operações móveis (ex.: frotas de transporte, equipas comerciais ou de assistência técnica que trabalham em instalações de clientes)?
  • As fontes de emissões de GEE podem incluir, entre outras, as seguintes:
    • Combustão em fontes fixas detidas ou controladas, como caldeiras ou fornos.
    • Emissões provenientes da fabricação ou transformação de produtos químicos e materiais, incluindo — mas não se limitando a — cimento, alumínio e tratamento de desperdício.
    • Combustão em fontes móveis, como camiões, comboios, navios e aviões, resultante do transporte de materiais, produtos, desperdícios e colaboradores.
    • Emissões fugitivas resultantes de libertações intencionais ou não intencionais, incluindo fugas de equipamentos, emissões de metano provenientes de minas de carvão e de sistemas de ventilação, emissões de HFC resultantes de processos de refrigeração e arrefecimento, e fugas de metano em gasodutos.
    • Emissões associadas ao consumo de eletricidade, incluindo as que resultam da geração da eletricidade adquirida e consumida durante a transmissão e distribuição. [75]
A empresa tem uma abordagem formal para medir e gerir as suas emissões de GEE?
  • A empresa tem controlos internos estabelecidos para medir e gerir continuamente as suas emissões de GEE?
  • A empresa projeta regularmente o seu perfil futuro de emissões de GEE, com base em planos de negócio e dados históricos?
A empresa tem uma estratégia para reduzir as suas emissões de GEE?
  • Foi assumido algum compromisso público no sentido de reduzir as emissões de GEE ou alcançar a neutralidade carbónica? Em caso afirmativo, que progressos foram alcançados até agora e que medidas já estão em curso para cumprir essas metas?
  • A empresa analisou a implementação de medidas de eficiência para reduzir as emissões de GEE? Em caso afirmativo, que passos são necessários para concretizar essas medidas? Poderão essas medidas comprometer involuntariamente os progressos futuros (ex.: o investimento em viaturas a gasolina mais eficientes pode imobilizar capital e adiar a transição para veículos elétricos sem emissões)?
Como definir prioridades

As seguintes perguntas ajudam a identificar e a priorizar ações de melhoria.

Onde estão as maiores oportunidades para reduzir as emissões de GEE?
  • Quais são as atividades operacionais da empresa que emitem mais GEE? Pequenas alterações nestas atividades podem resultar em melhorias relativamente significativas.
  • Os sistemas de distribuição da empresa já foram revistos do ponto de vista das emissões de GEE? Em caso afirmativo, existem alternativas com baixas emissões de carbono disponíveis? Que impacto teria a mudança para essas alternativas em termos de custos e/ou prazos de entrega?

Nota sobre os gases com efeito de estufa

O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) identificou sete gases com efeito de estufa (GEE) principais responsáveis pela grande maioria das alterações climáticas causadas pelo ser humano. Os países que ratificaram o Protocolo de Quioto são obrigados, no mínimo, a reportar as emissões destes gases. Ao iniciar a avaliação das suas operações, as empresas podem começar por estes gases, dado que são os mais relevantes a nível global e ajudam a alinhar a empresa com as expectativas internacionais de reporte.

Que ações pode a empresa implementar com o menor investimento de tempo e recursos?
  • Alguns processos empresariais podem ser adaptados ou alterados sem necessidade de grandes investimentos de capital ou de formação intensiva para os colaboradores?
  • A empresa dispõe de conhecimento técnico interno suficiente para progredir sem assistência externa? Existem processos ou técnicas já aplicados numa parte da empresa que possam ser replicados noutros contextos? Existem boas práticas do setor ou métodos comprovados que possam ser aplicados às operações da própria empresa?
  • Quais são os locais que a empresa controla diretamente? Caso arrende determinadas instalações, tem influência sobre o consumo de energia nesses locais (de modo a reduzir as emissões do Âmbito 2)?
  • Existem instalações abrangidas por regimes legais de comércio de emissões (ex.: Regime de Comércio de Licenças de Emissão da União Europeia, Regional Greenhouse Gas Initiative, Cap-and-Trade da California Air Resources Board)?
  • Alguns locais estão sujeitos ao risco de penalizações decorrentes de regulamentação futura sobre emissões de GEE (ex.: compromissos climáticos da União Europeia no âmbito da Estratégia Energética para 2050)?
Poderá a empresa ir além do exigido por este objetivo?
  • Para além do necessário para atingir este objetivo, existem ações que a empresa possa realizar para garantir que o ambiente está livre de poluição?66 Qualquer ação nesse sentido pode acelerar o progresso da sociedade rumo à sustentabilidade Future-Fit. Para mais detalhes, consultar o Guia de Ações Positivas.

A próxima secção descreve os critérios de aptidão necessários para determinar se uma ação específica resultará em progressos rumo à sustentabilidade Future-Fit.

2.2 Prosseguir rumo à sustentabilidade Future-Fit

Introdução

A avaliação da sustentabilidade Future-Fit deve basear-se no total de emissões de GEE ocorridas ao longo do período de reporte. Isto inclui as emissões provenientes de qualquer edifício controlado pela empresa, ativo móvel (incluindo frotas de transporte) ou departamento de serviços que emita GEE. Importa salientar que, nos casos em que as emissões ocorrem fora de um local fixo, pode ser adequado avaliar esse aspeto das operações de forma separada (ex.: equipas de construção ou manutenção que atuam fora das instalações e que dependem de redes elétricas locais ou utilizam geradores alimentados por combustíveis fósseis).

Orientações para identificar tipos de emissões de GEE

Para ser Future-Fit, a empresa deve eliminar todas as emissões de GEE resultantes das seguintes fontes:67

  • Emissões diretas de GEE provenientes de fontes fixas e móveis detidas ou controladas pela empresa (emissões do Âmbito 1).
  • Emissões de GEE resultantes da energia (eletricidade, vapor, aquecimento ou arrefecimento) consumida pela empresa (emissões do Âmbito 2). [76]
Orientações para o cálculo do total de GEE

Para cada atividade operacional que gera emissões de gases com efeito de estufa (GEE), a empresa deve converter as quantidades emitidas em toneladas equivalentes de dióxido de carbono (tCO2e) para permitir a sua soma.68 Ao longo deste processo de cálculo, a empresa deve documentar o seguinte:

  • O limite definido para o inventário.
  • O nome da norma, do protocolo ou da metodologia utilizada para recolher os dados de atividade e calcular as emissões dos âmbitos 1 e 2.
  • A fonte dos valores de Potencial de Aquecimento Global (PAG) utilizados para converter os dados num formato uniforme (ver Orientações sobre potenciais de aquecimento global abaixo).
  • Quaisquer fatores de emissão69 aplicados e a sua origem.
  • Qualquer incerteza resultante do processo de recolha.
  • O estado da verificação e/ou auditoria.

Nota: o Greenhouse Gas Protocol disponibiliza orientações sobre como definir o limite de reporte da empresa e como lidar com dados incompletos na comunicação das emissões de gases com efeito de estufa.

Orientações sobre a seleção de uma metodologia

Embora o Greenhouse Gas Protocol seja a metodologia mais amplamente utilizada para o cálculo de emissões, existem muitas outras metodologias que podem ser úteis em diferentes contextos. O CDP identificou uma lista extensa de metodologias e integrou-as nas suas Orientações para o Reporte de Alterações Climáticas Climate Change Reporting Guidance. [77]

Importa referir que as metodologias reconhecidas diferem quanto à forma de quantificar e reportar as emissões do Âmbito 2. Para mais informações sobre a abordagem que deve ser adotada para cumprir este objetivo ver Orientações para a avaliação das emissões do Âmbito 2.

Orientações sobre potenciais de aquecimento global

O Greenhouse Gas Protocol define o potencial de aquecimento global (PAG) como “um fator que descreve o impacto do forçamento radiativo (grau de dano para a atmosfera) de uma unidade de um dado gás com efeito de estufa em relação a uma unidade de CO2. [76] Os potenciais de aquecimento global são utilizados para calcular o equivalente em CO2 dos diferentes GEE. Em conformidade com o Greenhouse Gas Protocol, para efeitos desta avaliação, as empresas devem utilizar os valores de PAG a 100 anos constantes do relatório de avaliação mais recente do IPCC.70

Por exemplo, o relatório mais recente do IPCC, AR5, indica que o potencial de aquecimento global de uma unidade de metano (CH4) num horizonte temporal de 100 anos, é 28 vezes superior ao de uma unidade de CO2. Assim, o PAG do metano é de 28. O dióxido de carbono tem um PAG de 1, por ser o valor de referência em relação ao qual todos os outros GEE são medidos.

Orientações sobre fatores de emissão

Como referido no Greenhouse Gas Protocol, “a medição direta das emissões de GEE, através do controlo da concentração e da taxa de fluxo, não é comum”. [75] Normalmente, a medição direta ocorre apenas em instalações com Sistemas de Monitorização Contínua de Emissões (CEMS), como as centrais elétricas. Em vez de recorrer à medição direta, muitas empresas calculam as emissões de GEE aplicando fatores de emissão documentados aos dados de atividade (ex.: toneladas de carvão consumidas ou metros cúbicos de gás natural queimado).

A identificação dos fatores de emissão adequados pode ser complexa e depende dos materiais e processos específicos envolvidos. Por exemplo, as emissões de geradores a gasóleo variam consoante o tipo de gasóleo utilizado e o tipo de gerador em funcionamento.

Em caso de dúvidas, as empresas devem consultar os fatores de emissão publicados por entidades governamentais oficiais, incluindo a EPA nos EUA, o Department for Environment, Food & Rural Affairs (DEFRA) no Reino Unido e a IEA a nível internacional.

Orientações sobre ‘incerteza’

Mesmo que uma empresa já meça as suas emissões de GEE há vários anos, haverá sempre algumas fontes de imprecisão nos dados. Estas são designadas por “incertezas”71 e podem ter várias origens, incluindo dados em falta, problemas na recolha, limitações nos sistemas de medição, falhas nos equipamentos, fatores de emissão imprecisos ou restrições nos sistemas de gestão de dados. Estas incertezas são geralmente classificadas como incertezas científicas (decorrentes da falta de informação precisa sobre os processos que geram as emissões) e incertezas de estimativa (imprecisões na forma como a informação é recolhida e utilizada para calcular as emissões).

As incertezas não podem ser totalmente eliminadas, mas as empresas devem estar conscientes destas limitações e procurar identificar e divulgar quaisquer fontes de incerteza aos utilizadores da informação. Para mais detalhes, ver as orientações do Greenhouse Gas Protocol..

Orientações para a avaliação das emissões do Âmbito 2

Ao determinar a combinação de fontes de energia adquirida utilizada para alimentar as operações da empresa, deve ser utilizado um método baseado na localização.

Os métodos baseados na localização utilizam a proporção média de fontes de energia das redes a partir das quais ocorre o consumo (ex.: dados sobre o mix energético regional ou a média nacional). As estimativas do mix energético nacional podem, muitas vezes, ser consultadas em sites oficiais de entidades governamentais. Este método baseado na localização tende a fornecer a estimativa mais precisa das emissões de GEE que ocorrem como consequência das atividades da empresa.

Porque não é permitido utilizar uma estimativa baseada no mercado?

O método baseado no mercado para estimar as emissões de GEE aplica fatores de emissão com base nos contratos financeiros que a empresa celebrou para a aquisição de eletricidade (e não nos fatores de emissão da eletricidade que é efetivamente fornecida à empresa). Este método permite que uma empresa que utilize certificados de energia renovável não vinculados72 ou outros contratos semelhantes declare que o seu consumo de eletricidade não provoca quaisquer emissões de GEE — e, assim, reporte que reduziu as suas emissões.

Uma das premissas fundamentais subjacentes à “aceitabilidade” da utilização de certificados de energia renovável para reduzir as emissões de GEE do Âmbito 2 é que a procura agregada desses certificados irá incentivar o investimento em mais produção de energia renovável, substituindo, assim, a procura por energia com elevada intensidade de emissões (ou seja, proveniente de combustíveis fósseis). No entanto, esta premissa não se verifica na prática.73 [28] [34] [33]

Orientações sobre compensação de emissões de GEE

Uma empresa pode tomar medidas para “anular” as suas emissões, seja permitindo que terceiros evitem emissões de GEE, seja capturando GEE da atmosfera e sequestrando-os.

No entanto, a empresa deve ser capaz de fundamentar qualquer alegação de prevenção ou sequestro com provas de que a redução efetiva de emissões ocorreu. Ao contrário das práticas comuns, não é suficiente confiar apenas na aquisição dos chamados “créditos de carbono” ou “compensações”, já que o mercado de compensações tem-se revelado altamente ineficaz e, muitas vezes, enganador. [78] [79]

Se a empresa pretender adquirir compensações como forma de reduzir as suas emissões, deve escolher mecanismos cuja eficácia possa ser comprovada de forma robusta. O Gold Standard Carbon Credit Scheme é geralmente considerado uma abordagem credível de compensação, e alguns esquemas de compensação de carbono localizados têm demonstrado bons resultados.74 [80]

Além das compensações, as ações que conduzam efetivamente à prevenção de emissões podem ser quantificadas através de métodos como a norma ISO 14064-2:2019 [81], The Greenhouse Gas Protocol for Project Accounting [82], ou as Guidelines for Quantifying Reductions from Grid-Connected Electricity Projects do GHG Ptotocol. [28]

Critérios de avaliação - Fitness criteria

Para ser Future-Fit, a empresa deve alcançar emissões líquidas nulas de gases com efeito de estufa (GEE) nas suas operações.

3. Avaliação

3.1 Indicadores de progresso

O objetivo dos indicadores de progresso Future-Fit é refletir o grau de evolução de uma empresa no cumprimento de um determinado objetivo. Estes indicadores são expressos em percentagens simples.

Deve procurar-se avaliar a sustentabilidade Future-Fit da empresa em toda a extensão das suas atividades. Em algumas situações, tal pode não ser possível. Nestes casos, deve ser consultada a secção Avaliação e reporte com dados incompletos no Guia de Implementação.

Avaliação do progresso

Este objetivo tem um único indicador de progresso. Para o calcular, devem ser seguidos os seguintes passos:

  • A empresa escolhe um ano de referência para o qual existam dados completos sobre emissões de GEE. A esse ano de referência é atribuída uma pontuação de progresso de 0%.75
  • Se não existirem dados históricos, o primeiro ano medido será utilizado como ano de referência. Até que seja realizada uma avaliação das emissões de GEE, a empresa deve considerar o seu progresso neste objetivo como sendo de 0%.
  • Medir as emissões de GEE durante o período de reporte atual, abrangendo cada atividade operacional — incluindo todos os locais, ativos móveis e departamentos de serviços. Garantir que são mantidos registos suficientes para evitar a dupla contagem.
  • Calcular o total de emissões de GEE em todas as atividades durante o período de reporte.
  • Calcular o progresso da empresa como a redução acumulada de emissões rumo a zero, em relação ao ano de referência.
  • Se as emissões de GEE atuais da empresa forem iguais ou superiores às do ano de referência, o seu progresso permanece em 0%.
  • Se as emissões de GEE atuais forem inferiores às do ano de referência, o progresso é calculado como a percentagem de redução relativamente ao ano de referência.

Isto pode ser expresso matematicamente da seguinte forma:

\[ F= \begin{cases} \frac{E_R-E_C}{E_R} \;\;for\;\; (E_R-E_C)\geq0\\ \\ \;\;\;0\% \;\;\;\;for\;\; (E_R-E_C)<0\\ \end{cases} \]

Onde:

\[F\] É o progresso rumo à sustentabilidade Future-Fit, expresso em percentagem.
\[E_R\] É o nível de emissões de GEE no ano de referência.
\[E_C\] É o nível de emissões de GEE no período de reporte atual.

Para um exemplo de como calcular este indicador de progresso, ver aqui.

3.2 Indicadores de contexto

O objetivo dos indicadores de contexto é fornecer às partes interessadas as informações adicionais necessárias para interpretar de forma completa o progresso de uma empresa.

Quantidade total de emissões de GEE

A empresa deve reportar a quantidade de emissões de GEE geradas durante o período de reporte, expressa em toneladas equivalentes de dióxido de carbono tCO2e. Importa referir que este valor é equivalente ao valor de EC na fórmula do indicador de progresso, pelo que não são necessários dados ou esforços adicionais para o calcular.

Para um exemplo de como reportar os indicadores de contexto, consultar aqui.

4. Verificação

4.1 Para que serve a verificação e porque é importante

Qualquer empresa que esteja a trilhar o caminho da sustentabilidade Future-Fit incutirá mais confiança entre as suas partes interessadas - desde a administração de topo (CEO, CFO) até a investidores externos - se conseguir demonstrar a qualidade dos seus dados e a robustez dos controlos que os sustentam.

Isto é particularmente importante se a empresa pretender comunicar publicamente o seu progresso rumo à sustentabilidade Future-Fit, uma vez que algumas organizações podem exigir uma verificação independente antes da divulgação pública. Ao implementar controlos eficazes e bem documentados, a empresa facilita a compreensão do seu funcionamento por parte de auditores ou avaliadores externos, apoiando a sua capacidade de prestar garantia e/ou recomendar melhorias.

4.2 Recomendações para este objetivo

Os pontos seguintes destacam áreas que merecem especial atenção relativamente a este objetivo específico. Cada empresa e cada período de reporte são únicos, pelo que os processos de verificação e garantia variam: em qualquer situação, os auditores podem procurar avaliar diferentes controlos e evidências documentadas. Por conseguinte, estas recomendações devem ser entendidas como exemplos ilustrativos do que poderá ser solicitado, e não como uma lista exaustiva do que será exigido.

  • Documentar os métodos utilizados para garantir que a empresa identificou todas as fontes de emissões de GEE (Âmbitos 1 e 2) em cada uma das suas localizações. A descrição dos métodos de identificação pode ajudar os auditores a avaliar se a abordagem da empresa apresenta riscos de omissão de fontes de emissões de GEE.
  • Guardar toda a documentação de suporte que comprove o nível e a qualidade das compensações de carbono atribuídas à empresa durante o período de reporte. Os auditores podem utilizar esta informação para verificar as emissões líquidas da empresa.
  • Guardar toda a documentação de suporte ou os cálculos utilizados para determinar a quantidade total de emissões em cada modalidade ao longo do ano. Os auditores podem recorrer a esta informação para compreender e verificar a abordagem adotada.

Para uma explicação mais geral sobre como conceber e documentar controlos internos, consultar a secção Rumo à sustentabilidade Future-Fit de forma sistemática no Guia de Implementação.

5. Informação adicional

5.1 Exemplo

A ACME Inc. vende produtos de limonada. As suas operações consistem em dois locais: uma unidade de engarrafamento e um escritório. O escritório sempre foi alimentado por energia eólica e não origina emissões de GEE. A empresa adotou o referencial Future-Fit Business Benchmark este ano. A empresa começou a medir as emissões de GEE da sua unidade de engarrafamento no primeiro ano de produção, há dez anos (Ano 0). Desde então, a produção de limonada cresceu rapidamente, o que levou a um aumento contínuo das emissões até ao Ano 4, altura em que as emissões anuais atingiram o pico, com um total de 1.000 toneladas de CO2e. A empresa escolhe, por isso, o Ano 4 como ano de referência.

Desde então, a empresa conseguiu continuar a aumentar a produção, reduzindo simultaneamente as emissões anuais para 800 toneladas de CO2e – uma redução total de 200 toneladas de CO2e.

A empresa pode agora calcular o seu progresso da seguinte forma:

\[F=\frac{E_R-E_C}{E_R}=\frac{1,000-800}{1,000}=20\%\]

Indicador de contexto

Quantidade total de emissões de GEE no período de reporte: 800 tCO2e.

5.3 Perguntas frequentes

Como se relaciona este objetivo com os Âmbitos do Greenhouse Gas Protocol?

O cálculo deste objetivo abrange todas as emissões de GEE dos Âmbitos 1 e 2 relacionadas com as atividades próprias da empresa.

Embora o Greenhouse Gas Protocol permita que as empresas utilizem dados baseados no mercado e na localização, para cumprir metas de redução de emissões de GEE, apenas a abordagem baseada na localização é considerada aceitável para efeitos deste objetivo. Para mais informações ver Orientações para a avaliação das emissões do Âmbito 2.

Adicionalmente, as emissões do Âmbito 3 são abordadas por outros Objetivos de Limite Mínimo, nomeadamente:

E quanto às emissões de GEE provenientes da pecuária?

As emissões de GEE resultantes de processos naturais — como a digestão dos animais — não são, por si só, incompatíveis com a sustentabilidade Future-Fit. No entanto, as emissões associadas à criação intensiva de animais nas indústrias da carne e dos laticínios são extremamente elevadas. Recomenda-se, por isso, que as empresas que se dedicam à criação de gado considerem estes animais como uma forma adicional de “equipamento operacional” que emite GEE.

Bibliografia

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[82]
“The GHG protocol for project accounting.” The Greenhouse Gas Protocol, 2005.

  1. Esta é uma das oito Propriedades de uma Sociedade Future-Fit — para mais detalhes, ver o Guia de Metodologia.↩︎

  2. Algumas empresas podem ter dúvidas sobre se devem reportar uma fonte específica de emissões de GEE neste objetivo ou no objetivo BE18: Os produtos não emitem gases com efeito de estufa (ex.: uma empresa de construção civil que utiliza maquinaria emissora de GEE durante os trabalhos de obra). Em caso de dúvidas, ver a secção Diferenciação entre impactos operacionais e impactos dos produtos no Guia de Implementação.↩︎

  3. Para informações sobre como fazer esta conversão, ver por exemplo as tabelas de conversão disponíveis em platts.com.↩︎

  4. Um fator de emissão pode ser definido como “a taxa média de emissão de um determinado GEE para uma fonte específica, em relação às unidades de atividade”. [31] Exemplos: kg CO2e por quilómetro percorrido ou kg CO2e por kWh gerado.↩︎

  5. As tabelas mais recentes de PAG estão disponíveis no site do IPCC e no site do GHG Protocol. Sempre que possível, as empresas são encorajadas a utilizar todos os valores de PAG da mesma versão do Relatório de Avaliação. As empresas devem também ter em atenção que a regulamentação em certos países pode exigir a utilização de uma versão específica do Relatório de Avaliação do IPCC.↩︎

  6. Ver a secção Definições para uma descrição detalhada deste termo.↩︎

  7. Segundo a EPA dos EUA: “Certificados de Energia Renovável não vinculados (Unbundled Renewable Energy Certificates ou RECs) referem-se a RECs que são vendidos, entregues ou adquiridos separadamente da eletricidade. [Estes] não fornecem eletricidade física ao cliente e, como tal, o cliente adquire energia de uma entidade diferente daquela que lhe vende o REC.” [27] Em contraste, um REC é considerado vinculado quando é vendido em conjunto com a eletricidade associada.↩︎

  8. Para mais informações, ver a pergunta frequente O que são Certificados de Energia Renovável não vinculados e porque não são aceitáveis no Guia de Ação BE01: A energia provém de fontes renováveis.↩︎

  9. Para mais informações sobre a aceitabilidade das compensações de carbono, ver o Guia de Compensação de Carbono.↩︎

  10. Esta etapa valoriza empresas com um histórico robusto de recolha de dados sobre emissões. Uma vez escolhido o ano de referência, este não deve ser alterado. Para mais detalhes sobre a definição de pontos de referência, ver o Guia de Implementação.↩︎